Tuesday, May 09, 2006

Ataraxia

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Formados na segunda metade da década de 80, os Ataraxia foram percorrendo um longo caminho até à edição das primeiras demos, “Prophetia” e “Nosce Te Ipsum” (em 90 e 91, respectivamente), até que, em 94, editam os primeiros trabalhos em CD, “Ad Perpetuam Rei Memoriam” (que colige trabalhos anteriores) e “Simphonia Sine Nomine” (trabalho de originais).
Não sendo estreantes em Portugal, pois já actuaram em Lisboa e Leiria, é a primeira vez que vêm ao Norte, tendo pisado o palco da Casa das Artes de Famalicão. Juntamente com a webzine “Sons Ocultos” (SO), aproveitamos a ocasião para proceder a uma entrevista.

S. O.: Antes de mais, gostaríamos de agradecer aos elementos dos ATARAXIA a oportunidade de fazer esta entrevista. Foi um longo caminho, desde a primeira promo-tape até aos dias actuais, desde as tendências góticas ao cabaret noir. Existe uma evolução natural desde esses dias até agora?
A.: Sim, natural, mas não previsível. Nós temos diferentes paixões musicais (música clássica, barroca, medieval, cabaret e música ritual), e, portanto, houve algumas experiências interiores que nos levaram até a este projecto. Ainda durante este ano, temos dois projectos que são muito diferentes um do outro: o primeiro será ritual e ligado a antigos ritos pagãos, o outro a cabaret.
S. M.: Os Ataraxia usam muitos idiomas. Sentem que cada idioma está ligado a sentimentos que querem expressar? E, no seguimento da mesma pergunta, como vos soa o Português.
A.: Eu (Francesca) gosto muito da língua portuguesa e compreendo-a. Não sei dizer o porquê, pois nunca a estudei, mas soa-a me muito natural. É difícil de falar, mas acho-a muito musical. Esperamos poder cantar outra vez na vossa língua, pois é mesmo muito musical. Respondendo à primeira pergunta, sim, nós escolhemos o idioma dependendo da atmosfera do tema. Eu gosto muito do Francês, pois é uma língua muito romântica, embora também muito grotesca em alguns temas estilo cabaret. Começamos, também, a cantar em Italiano, o que tem sido bastante raro. Um dos próximos álbuns será quase todo cantado em Italiano, o que é bom. O Inglês é, também, uma linguagem muito musical. Temos, ainda, alguns temas em Espanhol e Latim. Nós apreciamos muito as nossas antigas raízes linguísticas, o Latim e o Grego.
S. O.: A primeira coisa que nos vem ao pensamento, quando dizemos o nome Ataraxia, é a palavra “medieval”. As pessoas tendem a misturar Ataraxia com música medieval. Está errado pensar assim ou, simplesmente, mantêm isso no pensamento e continuam em frente para outros estilos?
A.: Nós seremos sempre medievais no nosso coração! Aliás, nós começamos, há alguns anos atrás, com essa definição. Iremos trabalhar, outra vez, com música medieval, mas não gostamos de manter um rótulo, pois todos nós temos muitos gostos e muitas coisas para desenvolver e para fazer. Em Itália, por exemplo, no próximo Verão, iremos actuar em vários castelos e locais medievais, que são óptimos para esse estilo musical. Contudo, dentro de um teatro existem coisas mais naturais para se fazer.
S. M.: Vocês usam mitos como parte de uma metáfora que tentam transmitir às pessoas que ouvem a vossa música. Mas, serão eles apenas uma metáfora ou reflexos de uma redescoberta cultural dos possíveis significados desses mitos ancestrais? Há, por exemplo, a Atlântida, um mito que utilizaram muito bem…
A.: Tentamos sempre escrever as letras, e compor as músicas, a pensar nas experiências pessoais que tivemos. Portanto, e no caso do "Lost Atlantis" (álbum de 1999), houve um ano em que passamos as nossas férias na Turquia e na Grécia, tendo sentido profundamente essa presença, tipo memória ancestral. Não foi escrever ou tentar escrever sobre algo…
S. M.: O antigo significado com o novo sentido que queriam expor?
A.: Sim! Muitas coisas estão perdidas e os tempos modernos não são os tempos que preferimos, pois muitas coisas são superficiais, e, quando usamos tecnologia, sentimo-nos, por vezes, incomodados. É muito importante encontrar, novamente, uma relação com a Natureza. É por essa razão que, normalmente, falamos de rituais pagãos e de coisas que estão mortas, pois estabeleciam uma ligação muito íntima entre o ser humano e a Natureza
S. O.: No último trabalho, “Kremasta Nera”, parecem estar a voltar às vossas raízes musicais, ao mesmo tempo que tentam inovar através do recurso à tecnologia. Acham que conseguiram usar esses mesmos pensamentos e sentimentos através de toda essa tecnologia?
A.: Sim, e de uma forma natural, pois tudo o que é medieval, ou mais antigo ainda, pode ser traduzido com instrumentos actuais, até porque nós não vivemos nessa era. Embora sintamos que pertencemos a essa era, também pertencemos à actual. Nós gostamos de transformar os temas. As impressões, as sugestões que, talvez, as pessoas partilham com rituais antigos ou sentimentos, podem ser traduzidas para linguagem moderna.
S. M.: Vocês já estiveram cá em Portugal algumas vezes. Além disso, gravaram cá uma performance ao vivo, “Os Cavaleiros do Templo”. Portugal induziu-vos alguma forma de sentimentos importantes? Não somente pelos Templários, que têm uma vertente esotérica, mas, por tudo relacionado?
A.: A primeira vez que eu (Francesca) visitei Portugal, foi durante umas férias. Estive uma semana em Lisboa e, depois, voltei mais duas ou três vezes, pois fiquei completamente encantada e fascinada com o vosso país e pela sua atmosfera. Eu senti o silêncio dos claustros, a beleza das catedrais, o lado medieval do país. Depois comecei a conhecer, também, a "art deco" e a decadência. Fiquei encantada com a decadência de Lisboa e de outras cidades. Senti uma paz e um ritmo aprazíveis, coisa que não sinto em algumas cidades italianas, que são muito stressadas. Muitas pessoas que nós conhecemos em Portugal, não ouvintes, mas organizadores, dizem-nos: "Porquê Portugal? A Itália é melhor!" Existe algo que eles não gostam neste país, o para nós é incompreensível, pois adoramos Portugal. Encontramos aqui lugares, atmosferas e sentimentos incríveis!
S. O.: Já estiveram em Sintra?
A.: Sim, já estivemos duas vezes Sintra, mas também estivemos em Tomar, Alcobaça…
S. M.: Se chegassem ao “Top Ten” em Itália, como é que se sentiriam? (risos) Pergunto isto porque os This Mortal Coil já estiveram no “Top Ten” em Portugal, com o tema “Song To The Siren”, por isso…
A.: É impossível, mas... (risos) Não sabemos responder, mas depois de tantos anos a tocar e a criar música, penso que não teríamos uma reacção estranha, diferente da actual.
S. O.: Gostaríamos de vos agradecer por esta entrevista e esperamos que venham a Portugal frequentemente. Continuem o bom trabalho! Para terminar, gostaríamos de umas ultimas palavras para os nossos leitores…
A.: Últimas palavras? Que querem que digamos? Algo de bom, algo de mau?... (risos)
S. M.: Algo de verdadeiro… (risos)
A.: São frases banais e superficiais, mas gostaríamos de agradecer a todos em Portugal pelo vosso constante empenho, e estamos honrados pela vossa presença nos concertos de Ataraxia. Muito obrigado!

Quanto a contactos, são os seguintes:
http://www.ataraxia.net/
pando@misterweb.it
http://www.arkrecords.net/
http://www.sons-ocultos.inet.pt/

Ataraxia - Arcana Eco (Obscura I) (CD, 7 trk., 36m + Digibook), 2005 Ark Records (9/10)
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Este novo trabalho dos Ataraxia, constitui o primeiro volume da série “Obscura” que a editora, Ark Records, pretende lançar.
Para além da componente áudio, com quatro temas novos e três vestidos com novas roupagens, inclui um digibook com letras, fotos e uma descrição, em seis capítulos, do evoluir da carreira deles desde os primórdios até à actualidade. Trata-se, acima de tudo, de um mimo para os fãs, embora sirva de excelente cartão de visita para aqueles que ainda não estão familiarizados com a sua obra.
Para quem tem vindo a acompanhar a sua carreira, este trabalho não trará, propriamente, algo de totalmente novo. Contudo, a beleza inerente a cada composição, consegue fazer-nos suster a respiração até ao último minuto, mergulhados que estamos no receio de, ao o fazer, cometermos qualquer acto sacrílego.
Oscilando entre sonoridades neo-clássicas e medievas, por entre as quais se vão insinuando algumas mais tradicionais e telúricas, e onde, por vezes, ainda se notam alguns traços de gótico/wave que marcou os seus inícios, a voz única e perturbadora de Francesca Nicoli tece melodias de uma forma delicada mas firme, por vezes austera, mas sempre generosa na entrega.
As atmosferas criadas, alternam entre o épico, por vezes aproximando-se do operático, e o melancólico, sendo poderosas no seu equilíbrio delicado e catártico. O silêncio, constituindo parte integrante da musicalidade, entrelaça-se em cumplicidades com memórias de outros tempos, de outras vidas, ao mesmo tempo que reforça a comunhão com o sagrado, com ecos transformados em lamentos daquilo que foi mas se perdeu na névoa do tempo.
Um disco intemporal, a devorar com urgência!

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