Thursday, September 28, 2006

ATÉ ONDE A MEMÓRIA ALCANÇA II: O Rock No Brasil

Para a grande maioria, o Brasil resume-se a praias, Carnaval e novelas. O facto não é de admirar, já que são esses os produtos de maior exportação daquele país para o nosso. Se juntarmos a isso a música que de lá nos chega, e que nos é impingida diariamente em doses maciças, cria-se uma imagem estereotipada do que é a realidade cultural bastante diferente de um dos maiores países do mundo.
De facto, o Brasil possui culturas alternativas que raramente chegam ao conhecimento do público geral. Tal não é de admirar, uma vez que os projectos musicais nacionais de cariz alternativo também não encontram grandes apoios ou divulgação, especialmente por parte das rádios locais, que têm o dever de promover as nossas sonoridades e divulgar um outro lado da música portuguesa. Mas, adiante!
O fenómeno rock brasileiro começou, como em muitos outros lugares do mundo, já em finais dos anos 50, inícios dos anos 60. As principais influências de que se revestiria seriam, como é natural, o que pelos mercados Anglo-Saxónicos se produzia e exportava. Aliás, assim como noutros países, ia acompanhando as tendências que de lá vinham, evoluindo com maior ou menor criatividade ao longo dos anos.
O “Iê-Iê”[1] e o movimento “A Jovem Guarda”, derivado de um programa de televisão, seriam os principais dinamizadores de um certo movimento Underground que se começou a impor, por mérito próprio, nas camadas mais jovens da população. É nessa altura que emergem nomes como Roberto Carlos, Raul Seixas, os Jet Black’s, os Língua de Trapo ou Luizinho e Seus Dinamites. Paralelamente, o chamado “Tropicalismo” surge como forma contestatária, englobando alguns elementos rock. O seu papel será, contudo, e no que a este artigo diz respeito, relevante no sentido em que irá influenciar compositores do período Pós-Punk e do pop/rock oitentista e pós anos 80, e, juntamente com elementos de músicas tradicionais, ajudará a criar uma identidade própria na música que nas Terras de Vera Cruz se fazia e se faz.

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP dos Jet Black’s
Enquanto nomes como o de Erasmo Carlos se afirmavam numa vertente mais de Country-Rock, o Rock Progressivo e o Hard-Rock implantavam-se ao longo dos anos 70. Bandas como os O Nosso Som de Cada Dia, Terreno Baldio, A Barca do Sol, Mito Perpétuo ou Tutti Frutti, no campo do Rock Progressivo, ou os Secos & Molhados[2] e Eddy Star, numa vertente mais Glam, impunham o seu som e ditavam as regras.
Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º Lp dos Secos & Molhados
Contudo, a mais marcante das bandas brasileiros, antes da Revolução Punk, terá sido os Mutantes[3]. Quer na vertente performativa, quer na vertente lírica, quer, e especialmente, na inovação sonora, serão eles a dar o grande impulso na modernidade do som brasileiro.
Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 3º Lp dos Mutantes
Entretanto, muitos dos músicos que tinham desempenhado um papel de relevo no evoluir da música brasileira, vão enveredando por fórmulas menos artísticas, mas mais lucrativas (como Roberto e Erasmo Carlos), enquanto outros tentam a sua sorte a solo, mantendo a sua integridade e adaptando-se aos novos tempos (Ney Mato Grosso ou Rita Lee, por exemplo). Novos ventos, no entanto, já sopravam de Inglaterra e dos E.U.A. O Punk e a New Wave tinham chegado para ficar!
Nesta altura, e à semelhança do que sucedeu em Portugal, uma miríade de bandas vais explodir um pouco por todo o país, mormente nos centros urbanos mais importantes. Assim, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Brasília ou Belo Horizonte vão ver nascer vários grupos que irão marcar os anos 80 brasileiros e que irão projectar a sua importância ainda no novo milénio. Como nos outros países, o movimento vai permitir o emergir de projectos muito diferentes e de vários estilos dispersos.
Bandas como os AL-5, Lixomania, Joelho de Porco, Aborto Elétrico, Olho Seco, Garotos Podres, Cólera, Inocentes, Não-Religião, Ratos de Porão, Magazine ou Camisa de Vênus, ganharão projecção, mesmo internacional, no campo do Punk/Hardcore. No Rockabilly ganham relevo Eddy Teddy, Coke-Luxe, Kães Vadius, Octávio e os Quatro-Olhos ou os A Grande Trepada, enquanto no Psychobilly os Cascavelettes e os S.A.R. se afirmam como principais bandas.

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do LP “Sistemados Pelo Crucifas”, dos Ratos de Porão

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP dos Camisa de Vénus

Noutro campo diferente, nas sonoridades Hard’n’Heavy, vão surgir importantes projectos tais como Módulo Mil, Patrulha do Espaço, Golpe de Estado, Viper, Angra, ou os internacionalmente reconhecidos Sarcófago e Sepultura.

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP dos Sepultura
Contudo, serão o Pós-Punk e a New Wave[4] a ter um maior impacto social e, inclusive, a nível de vendas, sendo alguns dos projectos derivados de antigas bandas Punk. Kid Vinil[5], Ira!, 365[6], Legião Urbana, Capital Inicial[7], Gang 90, As Absurdettes, Blitz, DeFalla, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Terço, Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Titãs, RPM, Tokyo, Zvidoq Moe, Plebe Rude, Mercenárias, Violeta de Outono, João Penca e seus Miquinhos Amestrados, Ultraje a Rigor, Fellini, Enginheiros do Hawaii, Os Replicantes, Picassos Falsos ou Metro, são apenas alguns nomes de relevo entre muitos outros que vão impor, definitivamente, um conceito de Pop/Rock brasileiro.
Foram, sem sombra de dúvida, os anos de ouro da música brasileira! Embora a maior parte dos grupos não sobreviva à viragem da década; alguns vão se impor e ter um impacto nunca antes visto por aqueles lados.
O maior marco vai ser, sem dúvida, os Legião Urbana. Iniciando-se com a “modesta” quantidade de 50.000 exemplares vendidos do seu primeiro LP, irão tornar-se num fenómeno sem precedentes, chegando a vender mais discos que os Beatles! O seu segundo LP, modestamente intitulado de “Dois”, verá, também, uma edição portuguesa. O grupo dará por findas as suas actividades após a morte do seu vocalista, Renato Russo, em meados dos anos 90, não sem antes ter editado, paralelamente, alguns discos a solo. Após o término da banda, também Marcelo Bonfá segue carreira a solo.

Photobucket - Video and Image Hosting
Photobucket - Video and Image Hosting
Capa dos 1º e 2º LP’s dos Legião Urbana

Photobucket - Video and Image Hosting
Os Legião Urbana na altura do álbum “V”

Outro grupo que terá sucesso, são os Barão Vermelho. A saída do seu vocalista, Cazuza, para seguir uma carreira solo, ainda nos anos 80, em nada afectará a continuação do projecto, prolongando-se a sua carreira até aos dias de hoje. A carreira solo de Cazuza terá um fim abrupto no final da década, devido à sua morte.

Photobucket - Video and Image Hosting
Barão Vermelho (ainda com Cazuza)

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º Lp dos Barão Vermelho
Sobreviventes serão, também, Os Paralamas do Sucesso. Numa vertente mais Ska, continuam, ainda hoje, a editar discos. Um dos seus elementos, Herbert Vianna, investirá, também, numa carreira a solo, mas sem nunca descurar o projecto principal.

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP d’Os Paralamas do Sucesso

Os Plebe Rude são outra das bandas emblemáticas da New Wave brasileira. Tendo, recentemente, reactivado a sua carreira, foram, aquando do seu surgimento, responsáveis pela injecção de uma grande carga de adrenalina no panorama musical.

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP dos Plebe Rude

Os Capital Inicial e os Titãs, continuarão a sua carreira, com grande sucesso e sempre com um carácter inovativo que os mantêm entre as melhores propostas vindas do Brasil. Dos Titãs, Arnaldo Antunes chegou a enveredar por uma carreira a solo, o mesmo acontecendo com Fê Lemos, dos Capital Inicial.

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP dos Capital Inicial

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 3º LP dos Titãs
De referir ainda, grupos como os Ultraje a Rigor, Fellini, RPM ou Tokyo pelos seus feitos. No caso dos Ultraje, as suas vendas destacaram-nos da maioria das bandas, tendo um dos seus temas sido genérico da novela “Brega & Chique” (quem é que não se lembra do refrão «Pelado, pelado, nu com a mão no bolso»?). Os RPM merecem referência por terem sido, numa altura em que faltavam meios, uma banda que revelou uma dimensão de profissionalismo até aí ausente por esses lados. Os Tokyo tiveram um certo relevo devido à sua colaboração com Nina Hagen no tema “Garota de Berlim”. Por fim, os Fellini, por terem também resistido ao desgaste do tempo, chegando a participar em bandas sonoras de cinema aletrnativo.
Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP dos Tokyo

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP dos Fellini
Do Pós-Punk e da New Wave, vai sair uma vertente mais obscura, de negro tingida e plena de emotividade. É o caso de grupos como os Ethiopia, Cabine C[8], Ness, Muzak, Gothic Vox, Pére Lachaise, Finis Africae, Escola de Escândalos, Smog Fog, Arte No Escuro ou Último Número, enquanto a sonoridade das Mercenárias não andava longe de uns Siouxsie And The Banshees. Paralelamente, surgem projectos mais experimentais, com vertente electrónica, tais como os Harry (ainda no activo), os Mulheres Negras, Akira S. e as Garotas que Erraram ou os Símbolo, estes últimos os mais obscuros, numa vertente EBM.

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do LP dos Cabine C

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º Lp dos Muzak

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP dos Finis Africae

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º LP das Mercenárias

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do Lp dos Arte no Escuro

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa de uma compilação dos Violeta de Outono
Outras vertentes proliferaram neste grande “boom” da música brasileira. Numa vertente mais Rock, singraram projectos como Lobão, Chico Science ou Mundo Livre S.A. Por outro lado, há que citar Marisa Monte, que fez a fusão entre a Pop, Jazz, Bossa Nova e músicas tradicionais. Outro projecto que pautava pela originalidade, e um pouco difíceis de catalogar, foram os Pato Fu.
Claro que tão prolífera e criativa explosão, projectou estilhaços para os anos futuros. Além dos já mencionados sobreviventes, surgem novos projectos, tais como os Morcegos, os Mamonas Assassinas[9], Skank, Charlie Brown Jr. ou Pitty, entre muitos outros, havendo, actualmente, um grande interesse em recuperar essas bandas já quase perdidas no esquecimento, sendo o chamado Brock (Brasil Rock) objecto de culto.

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do único álbum dos Mamonas Assassinas

Photobucket - Video and Image Hosting
Capa do 1º álbum dos Pitty

[1] Em Portugal, semelhante fenómeno aconteceu, embora com a nuance de pronúncia “Ié-Ié”. O nome deve-se ao facto de os músicos anglo-saxões utilizarem muito o termo yeah-yeah nas suas canções.
[2] Onde pontilhava Ney Mato Grosso.
[3] De onde sairia Rita Lee.
[4] Chamada, pelos brasileiros, de “Niuê”…
[5] Ex-elemento dos Magazine.
[6] Com elementos que eram dos Lixomania.
[7] Estas duas últimas formadas por ex-elementos dos Aborto Elétrico.
[8] Projecto de um ex-elemento dos Titãs, Ciro Pessoa.
[9] De curta existência, uma vez que todos os seus elementos morrem numa queda de avião após o lançamento do seu único disco.

Tuesday, July 25, 2006

UHF

Photobucket - Video and Image Hosting
Com uma longa e prestigiada carreira, os UHF são, sem sombra de dúvida, uma referência cultural portuguesa e um marco no Rock que por cá se fez e se vai, ainda, fazendo. Sendo incontornáveis para todo e qualquer melómano que se preze, urgia apresentá-los nestas páginas e tentar saber um pouco mais sobre o que ainda os motiva.

S.M.: Como é compor, ao fim de todos estes anos?
UHF: Ainda é uma descoberta e um desafio, é a procura do muito belo a partir do nada, de uma ideia, de umas palavras, de uns acordes. Quando se concretiza a ideia é fantástico; é o acto da criação pura.
S.M.: Desde os inícios que a componente poética é parte indissociável dos UHF, facto que os destaca(va) de muitas bandas. Crêem que é, de facto, uma imagem de marca vossa?
UHF: Penso que a preocupação e o rigor colocados na componente poética colocou sempre os UHF num patamar de comunicação muito próprio, seja a mensagem provocatória, a denúncia ou a mera observação. Sou uma espécie de fotógrafo com palavras.
S.M.: Sendo o António Manuel Ribeiro o único sobrevivente da formação original (e de outras), e mesmo já tendo editado trabalhos a solo, há quem acuse os UHF de serem isso mesmo, um projecto a solo de AMR. O que dizem disto?
UHF: Já editei 2 CD’s a solo e outras coisas a avulso. Há uma diferença enorme entre o faço com os UHF e o que realizo a solo. Não o ver é não querer ver e contra isso nada posso fazer. Cada um vê o que quer ou o que pode. Sobre a “acusação” nada tenho a acrescentar. As pessoas dizem o que quiserem dizer, o que não significa que percebem do assunto ou conhecem o que vai dentro desta casa. Somos figuras públicas habituadas a tudo: elogios, críticas e disparates.
S.M.: Haverá outro disco a solo de AMR ou os UHF preenchem todas as expectativas e necessidades enquanto músico e compositor?
UHF: Depende do tempo certo para fazer uma coisa ou outra: gravar a solo, que faço de tempos a tempos, ou com os UHF, que é a minha vida de todos os dias. Sou um compositor muito prolífero, havendo sempre muito material para editar. Acrescento ainda que escrevo regularmente sobre música e/ou sobre política, tenho três livros editados e preparo o quarto.
S.M.: Uma carreira tão longa tem, como é lógico, os seus pontos altos e baixos. Houve momentos em que já apeteceu por um fim a tudo e seguir outro caminho?
UHF: Oh se houve! Às vezes é muito difícil ser-se português em Portugal e como eu não padeço do complexo judaico-cristão do sofrimento… Claro que o meu lado organizado (por cá uma imensa virtude), a teimosia e disponibilidade criativa fizeram-me sempre regressar às cordas da guitarra.
S.M.: Sendo um dos poucos sobreviventes do chamado "boom" do Rock português, cria isso, nos UHF, alguma pressão para uma evolução constante? Cria algum tipo de sensação de responsabilidade acrescida?
UHF: Não, pessoalmente não sinto nada disso. Por vezes olho para trás e pasmo com coisas muito bonitas e avançadas que fiz numa certa época. Outras vezes, repiso sobre os disparates que não soube resolver. Mas a vida criativa é isso mesmo: almejar o perfeito impossível! É o desafio que dá gozo e nos mantém vivos.
S.M.: Os UHF têm, ainda hoje, a capacidade invejável de criar canções que se tornam hinos, e que como tal se mantêm, independentemente da passagem dos anos. Será essa a chave para a vossa longevidade?
UHF: Não recebendo subsídios estatais, não vivendo da publicidade nem das “amizades” ou da mentira à escala nacional, se estamos cá, se, ano após ano, convencemos quem nos vê em palco, tudo isto se deve às canções de sucesso e ao trabalho continuado na procura da felicidade que uma canção e depois outra proporcionam em nós, primeiro, e no público, depois.
S.M.: Hoje em dia, os UHF ainda palmilham o "país profundo", actuando um pouco por todo o lado. Até que ponto é diferente a nível de sensações e de público?
UHF: Com alguma ironia digo: hoje temos muitas canções por onde escolher e gente que já nos conhece profundamente. Esta é a grande diferença. Saber o que isto vale tornou-nos profissionais sérios mesmo a brincar.
S.M.: A fundação da AM.RA Discos deu-se com o objectivo de conseguirem um maior controlo sobre o vosso trabalho ou destina-se, essencialmente, à edição de alguns trabalhos que achais que não se enquadrariam no esquema de lançamentos "normais" dos UHF? Pretende, também, editar trabalhos de outros artistas?
UHF: A AM.RA Discos deu-nos a possibilidade de, finalmente, sermos proprietários da nossa obra e termos a liberdade de fazer quando e como nos dá na gana, à semelhança do que no estrangeiro outros nomes com carreira o vêm fazendo. Naturalmente que pensamos vir a editar outros artistas.
S.M.: O livro de poemas dos UHF constituiu um marco na vossa carreira, a partir do qual se pretende dar um novo passo em frente?
UHF: Para os fãs, para os mais novos e para os com pouca memória, editei “Cavalos de Corrida – A Poética dos UHF” com pompa e circunstância. Para se chegar a um livro destes é preciso: primeiro, ter uma obra, depois, conteúdo e, a seguir, vontade quixotesca na aridez circundante.
S.M.: Ainda recentemente (2003), os UHF lançaram um duplo álbum conceptual, o "La Pop End Rock", uma "ópera" que, sendo autobiográfica, percorre muitos caminhos, sonoridades e emoções. Pretendem seguir de novo o caminho do conceptualismo?
UHF: Perdoe-me a frontalidade mas “La Pop End Rock” é uma ópera sem aspas e, seguindo a estética e o formato do género, servida por um libreto e várias personagens. Não é um trabalho conceptual; é uma Ópera, ponto final. É a minha obra-prima e não ponho de parte a ideia de repetir o desafio. Naturalmente que este género me permitiu “voar” como compositor e esse foi o gozo maior do criativo.
S.M.: O vosso último longa duração ("Há Rock No Cais"), aproxima-se mais das vossas raízes do que outro qualquer. Pode-se ver nisso alguma influência de terem feito a vossa "autobiografia" no anterior trabalho?
UHF: Em termos musicais sim, ou seja, o quarteto bastou-se a si próprio. Era uma vontade do grupo aplicar esta fórmula, regressar às origens. Se somos quatro em palco e chegamos, transportámos o conceito para o estúdio. Rock puro e cru e uma balada de enorme sucesso.
S.M.: Este último longa duração viu, também, os UHF com uma energia e garra que transmitem uma atmosfera "ao vivo" muito forte, muito directa. É, de facto, nos palcos, que os UHF se sentem melhor e são mais eles mesmos?
UHF: São duas abordagens diferentes: no estúdio repete-se até sair bem; no palco é à primeira que se convence a audiência e está tudo dito. Mas é um facto que o grupo está sempre com fome de palco, vivendo intensamente cada concerto, o entusiasmo das pessoas, a vida na estrada que nos cimenta enquanto equipa – nós e os técnicos –, o desafio de querer chegar mais longe no desempenho. Nós somos assim: o melhor concerto é o que vem a seguir.
S.M.: A pergunta cliché: que novidades podemos esperar para breve?
UHF: Muitas e boas, algumas que posso divulgar e outras não. Para já, a reedição do “Há Rock no cais” em formato duplo, concertos por todo o lado e dois Coliseus (Lisboa a 23/09 e Porto a 5/10) para gravarmos o primeiro DVD e o terceiro disco ao vivo.

Para os interessados, aqui fica um contacto:
http://www.uhfrock.com/

PHANTOM VISION

Photobucket - Video and Image Hosting
Sendo a mais importante banda do underground nacional, e com uma carreira já reconhecida internacionalmente, acabaram de editar o seu mais recente trabalho, “Instinct”, álbum que se encontra na décima posição da tabela alternativa alemã. Foi este o mote que nos serviu para procedermos a esta entrevista.

S.M.: O vosso nome evoca um certo romantismo, fantasmas vitorianos e atmosferas difusas de algo externo que não se consegue bem agarrar. Contudo, as vossas letras evocam algo de mais íntimo, dentro de nós. Havia intenção em ter um nome que jogasse com isso?
P.V.: Para ser sincero, e sem azo para dúvida, o nosso nome não é o que temos de mais identificativo. Na realidade, resulta de uma coincidência distraída, embora feliz. Estarmos aqui a desmontar poeticamente um nome que, na verdade, não teve na sua origem a contribuição de uma qualquer musa inspiradora de cariz divino, era insistir numa fraude desnecessária. Este nome surge da comum necessidade de atribuir uma identidade ao projecto, tão-somente.
No entanto, e após tais declarações de pautada frieza, sinto-me na obrigação de destacar que, não obstante o processo descomprometido a que submetemos essa tarefa, verdade é, também, que o nome que se acabou por eleger faz parte do meu imaginário e não foi, obviamente, lançado ao calhas, tipo “Dead Mushrooms” ou “Flying Umbrella”...
A verdade é que, poeticamente, uma das ideias que mais me atrai é a dos contrastes e, como não é difícil de perceber, é essa essencialmente a ideia chave deste nome... Mais tarde, veio juntar-se uma coincidência valiosa ao processo, valiosa porque, na verdade, considero ser o contributo mais interessante para a imagética do nome, e simultaneamente o mais intrigante, visto tratar-se de um contributo externo ao qual somos totalmente alheios, um contributo com o qual o acaso decidiu presentear-nos... Trata-se da definição científica para o termo Phantom Vision, que é o nome atribuído a uma patologia cerebral, ainda em estudo, e cujos doentes, por força da acção da patologia, vivem de acordo com um mundo paralelo que lhes chega através das imagens que vêm e que o cérebro doente trata de modificar... É uma doença enigmática.
S.M.: Desde os inícios, até hoje, foi uma longa caminhada. Falem um pouco disso...
P.V.: Hum… Longa mesmo!... Não sei por onde começar, uma vez que o início está inalcansavelmente distante... Encurtemos, pois então, a caminhada para metade e comecemos pelos Art of Dark.
A banda surge no início de 1990, fruto da combinação das ideias dos seus cinco elementos fundadores, eu (Pedro Morcego), o Pierre Dumond, o Fernando Ramalho, o Diogo Duarte e o Paulo Sérgio.
Todos nós já tínhamos estado em projectos anteriores, e naturalmente que, para além da relativa experiência que todos tínhamos, havia, acima de tudo, uma enorme vontade de avançar com aquele projecto e de cruzar essas mesmas experiências e ideias na concepção urgente de algo novo.
O resultado, não obstante a minha suspeição, foi tão magnífico quanto reservado. O trabalho da banda ficou registado numa série de gravações descomprometidas e numa maqueta, intitulada “X-Ray Kisses”, gravada no estúdio Tubo de Ensaio, e que permaneceu meticulosamente guardada, em segredo, em gavetas das nossas casas, sem que, infelizmente, tivessem sido divulgadas, de alguma forma, ao público.
Seguiram-se os Electric Wet Dreams, em 1996, resultando, essencialmente, de uma evolução no sentido estético das sonoridades, ou seja, da necessidade de aprofundar criativamente as ideias, as técnicas, as sonoridades, as temáticas e as ambiências criadas com os Art of Dark.
Saíram o Paulo Sérgio e o Diogo Duarte, tendo os restantes elementos assegurado a continuidade, permanecendo o Fernando na guitarra, eu na voz, baixo e programações de uma modesta caixa de ritmos à moda antiga, e tendo o Dumond passado da guitarra ritmo para os teclados.
A partir daí, entre diversas mudanças de line-up e todo o tipo de contratempos, a banda tratou de gravar diverso material promocional e efectuou largas dezenas de concertos ao vivo, acabando por se tornar num ícone do movimento underground, não só na capital como, também, no resto do país.
Em 2000 chegamos aos Phantom Vision, pelas mãos do Trevor Bramford, mentor, não só, dos Ingleses Midnight Configuration como, também, da famosa editora independente Nightbreed Records, responsável pela edição de discos extremamente marcantes, nessa época, como, por exemplo, os discos dos Suspiria, o famoso álbum dos Athamay, os Corpus Delicti, os próprios Midnight Configuration, os Killing Miranda, etc., etc., além de ”Nocturnal Frequencies”, o primeiro longa duração dos Phantom Vision. A partir daí, a história não tem mais segredos, indo-se o presente construindo e, ao mesmo tempo, fazendo história...
S.M.: Qual o episódio, como banda, que vocês acharam mais engraçado e que vos tenha sucedido?
P.V.: Epá! Pergunta difícil!... São milhares os episódios engraçados a ocorrerem, de forma constante, a quem está numa banda e, principalmente, a quem anda na estrada. O tipo de vida propicia exactamente isso... Recordo-me essencialmente de momentos idos, maioritariamente provocados pela euforia alcoólica, em plena força da juventude, e que resultaram em situações desastrosas, mas que hoje, alguns anos passados, conseguem arrancar-me profundos sorrisos de nostalgia... Palcos a arder, baterias urinadas, etc., etc., etc. Foi engraçado, e é esse o adjectivo a que a pergunta apela.
S.M.: Houve certas coisas, opções no passado, que vocês, conscientemente, decidiram não tomar e que, por tal, daí viram frutos?
P.V.: Para ser sincero, não consigo recordar qualquer situação semelhante. Não tomar uma decisão é, na realidade, tomar uma. Portanto, e olhando para trás, concluo apenas que tudo o que se construiu, foi feito com todas as decisões, melhores ou piores, que se tomaram.
S.M.: A mudança de nome, do mítico Electric Wet Dreams para o de agora, acarretou a opção de outro caminho musical?
P.V.: Não, de forma alguma! Essa mudança resumiu-se, única e exclusivamente, ao nome, tendo todo o resto permanecido intacto.
S.M.: Segundo sei, vocês têm tido uma grande receptividade em Espanha. Surpreende-vos esse facto?
P.V.: Temos trabalhado para isso e, como tal, não podemos falar propriamente de surpresas.
Julgo, também, que o factor distância propicia a criação natural de imagéticas enigmáticas relativamente aos artistas e, consequentemente, algum “engrandecimento” em relação à forma de gostar e de sentir os seus trabalhos... Talvez seja isso… Certo é que, em Espanha, temos, de facto, um grande público, muitos discos vendidos, concertos lotados e muito, muito feedback todos os dias!...
S.M.: E noutros países, como é que tem sido a recepção ao vosso trabalho (incluindo este último)?
P.V.: Francamente, tem sido boa. Em Portugal, ainda não temos distribuição para este trabalho e, como tal, sente-se que as reacções ao disco são diminutas, em comparação com qualquer outro país Europeu ou mesmo Americano.
Um pouco por todo o mundo, os discos de Phantom têm sido recebidos com muita euforia e, de disco para disco, sentimos que o reconhecimento se vai consolidando e nos vamos tornando numa banda de referência para cada vez mais e mais público... Isso é extremamente gratificante!
S.M.: Têm visto frutos do vosso lavor aqui ou acham que este tipo de música só se implanta se vier do estrangeiro?
P.V.: Não! Também aqui sentimos um reconhecimento crescente, não obstante constatarmos haver uma diferença de grau muito significativa.
S.M.: Falem-me deste novo disco. Aplicam-se aqui apenas aqueles velhos clichés de que é o vosso melhor até agora ou que estão melhores como músicos, ou há algo de mais próprio e genuíno que vocês sintam em relação a ele?
P.V.: A evolução é uma constante em todo o Universo e, como tal, existe, naturalmente, uma evolução neste último trabalho em relação aos anteriores.
Mais uma vez, foi um disco totalmente gravado, produzido e misturado por nós, nos estúdios Batcave, e posso-te garantir que esse processo constitui uma fatia extremamente importante da magia de cada trabalho que fazemos.
Grande parte da genuinidade e pormenores que constituem a secreta intimidade de cada disco, nasce, cresce e ganha personalidade própria no decorrer desse período de magia e paixão. Acontece que, evoluir nesse processo, é evoluir nos diversos discos e nos seus conteúdos poéticos e artísticos.
No caso concreto deste último trabalho, é um disco quente, caracterizado pela enorme diversidade de informação e mensagem, mas em que os diversos temas seguem um trajecto com destino comum, umbilicalmente ligados pelo conceito guia, que aparece como o denominador comum para este enorme jardim de diversidade: o conceito de instinto, tão simples e redutor quanto complexo e sinistro, quando em contacto com o misterioso mecanismo do cérebro humano.
S.M.: Acham que nos anos 80, que são uma referência vossa, teriam se sentido mais ambientados, que essa seria uma época mais propícia, ou, pelo contrário, esta é que foi a época ideal para vocês surgirem?
P.V.: Para ser sincero, é minha convicção de que os anos 80 tinham, sem dúvida, o cenário, o contexto, a inspiração e as infra-estruturas físicas, sociais e morais perfeitas para a adequada sobrevivência, em habitat apropriado, dos Phantom Vision e de todo o seu mundo de sonho, imaginários e atitude.
O sonho, no entanto, ultrapassa o tempo, e a capacidade de sonhar torna-nos infinitamente dotados da possibilidade incrível de adaptação a novos habitats, próprios de novos tempos...
Nesse sentido, entendo que estes são igualmente o lugar e o momento perfeitos para existirmos, até porque foi de facto o momento em que, concretamente, aparecemos e existimos. É a lei da natureza e, contra isso, nada há a fazer!
Por outro lado, orgulha-nos o facto de existirmos agora, pois consideramos tão importante o papel e a responsabilidade de dar continuidade ao movimento alternativo e underground, guiando-o e influenciando-o com a nossa experiência e criatividade, quanto o papel daqueles cuja tarefa foi a de o criar e trazer até nós...
Imaginem um género de uma corrida de estafeta. O testemunho foi-nos passado e compete-nos, agora, fazer a melhor prova possível, no sentido de o entregar nas melhores condições às gerações futuras, para que estas prossigam orgulhosamente esta nossa corrida que é o Underground.
S.M.: Como surgiu a opção de editarem por esta editora (a Cop International)? Aqui não havia interessados?
P.V.: Esta é a editora para a qual estamos a editar há já alguns anos. Este é, na verdade, o terceiro disco que sai com o selo da Cop International.
Quando começamos a editar pela Cop, vínhamos da Nightbreed e, portanto, já situados numa perspectiva de mercado internacional. A Cop mostrou interesse e assinámos contrato, pois as suas propostas e conteúdos de orientação, não tanto musicais mas essencialmente ideológicos, nos pareceram interessantes, assim como a enorme capacidade de distribuição que, ainda hoje, demonstram de forma reforçada, essencialmente graças aos acordos que têm vindo a estabelecer.
Quanto à segunda parte da pergunta, não, nunca houve, por parte de qualquer entidade nacional relevante, pública ou privada, um interesse significativo em toda a actividade, curriculum e destaque que nós, apenas com o nosso próprio trabalho e dedicação, numa autêntica prova de obstáculos, temos concretizado, não obstante a constatação de que lá fora, as entidades internacionais nos dirigem todo o apoio, respeito, consideração e reconhecimento que mereceríamos por parte do nosso próprio país.
S.M.: Acham que a música está a tornar-se demasiado dependente das novas tecnologias ou pensam que isso é inevitável?
P.V.: Penso que as coisas evoluem, e a tecnologia tem sido o sentido da evolução desde sempre, de uma forma mais marcante desde a Revolução Industrial, creio.
A música acompanha o sentido da evolução da actividade humana, e as velhas tecnologias já foram novas noutra época.
Creio que o que é necessário é que, nas diversas etapas da evolução, e mais concretamente na evolução ao serviço das artes, o piloto e o guia sejam o cérebro humano.

Para os interessados, aqui ficam possíveis contactos:
www.myspace.com/phantomvision
http://www.phantomvision.net
Photobucket - Video and Image Hosting
Phantom Vision - Instinct (CD, 13 trk., 64m), 2006 COP International (9/10)
Este novo trabalho representa, sem margem para dúvidas, um passo em frente na carreira dos PV.
O som, com naturais reflexos dos anos 80, expandiu-se e diversificou-se, com novos tons composicionais e uma poética de arranjos mais personalizada.
A voz soa mais natural, afastando-se de alguns clichés do Gótico e apresentando-se mais diversificada nas suas modelações e aplicações, expandindo o leque de emoções partilhadas e as nuances de estados de alma transmitidas.
Não se pense, contudo, que estamos perante um disco de uma outra banda qualquer! Não! O som é nitidamente o dos PV, contendo os elementos que os tornam únicos no panorama musical e os conceitos que têm vindo a construir, desde os inícios, a sua carreira. Todavia, quer a parte instrumental, quer a vocal, demonstram um maior entrosamento dos músicos e o atingir de uma orgânica mais diversificada nas suas facetas, facto que os permite seguir novos caminhos mas sem nunca perderem a sua essência.
Na globalidade, as composições demonstram urgência na forma como nos são entregues, uma agressividade instintiva e o redescobrimento de algumas características primevas que o verniz da civilização teima em recalcar sem nunca o conseguir, por completo, abafar.
Um disco que se entranha na pele e na alma!


MIKROBEN KRIEG

Photobucket - Video and Image Hosting



Possuindo raízes electro-industriais vincadas, os Mikroben Krieg completaram agora uns históricos 11 anos de carreira, facto não muito comum em projectos de cariz underground. Para comemorar tal facto, foi editada agora a dupla colectânea “Possessive Memories”, retrospectiva da sua prolífica carreira, motivo mais do que suficiente para os entrevistarmos.

S.M.: O que significa, para ti, o alcançar 11 anos de actividade com este projecto?
M.K.: Posso dizer-te que me dá muito gosto olhar para trás e perceber o quanto eu e o projecto nos confundimos. O projecto tem sido muito importante no meu crescimento pessoal, pelas oportunidades de reflexão, criação e catarse que me tem proporcionado, mas, também, pela panóplia de gente interessante, inventiva e perspicaz que me tem permitido conhecer. Sinto-me, por isso, muito satisfeito por ter tido a teimosia de manter o projecto activo durante todos estes anos... (risos) Mas o melhor ainda está para vir, esta guerra não tem fim!
S.M.: Quando iniciaste os MK, já imaginavas que iriam atingir esta longevidade e qualidade composicional?
M.K.: Obrigado pelo elogio! Para ser sincero, este projecto nasceu, com pretensões algo inconsequentes, pela mão de um adolescente melómano que conseguiu convencer dois amigos a gravar umas coisas pois queria ter uma banda industrial. Não é um início muito glorioso, é verdade!
Na primeira metade dos anos 90, as coisas tinham outro encanto, outra magia, e a audição de coisas como Einstürzende Neubauten, Psychic Tv ou dos portugueses Ode Filípica, só para citar alguns, revestia-se de uma áurea transcendental absolutamente inspiradora. Aquilo era bem mais que música!
Lutando contra os olhares de estranheza dos colegas e amigos e, sobretudo, contra a falta de meios, o projecto foi-se mantendo, fruto do alcançar de pequenas metas e, especialmente, da satisfação interior que me dava. Os olhares de estranheza foram sendo substituídos pelos de respeito e apoio, a satisfação foi aumentando e a caturrice permaneceu.
A qualidade das composições foi sempre um reflexo dos parcos meios que tinha à disposição. Dos iniciais rádios de onda curta, pedais de distorção, velhos sistemas hi-fi em curto-circuito e auscultadores a servir de microfone, até aos actuais sistemas baseados quase exclusivamente em sintetizadores virtuais, correndo sobre digital audio workstations, o percurso foi longo. É óbvio que isso acaba, inevitavelmente, por ter reflexos naquilo que se compõe. Em 1995, não fazia ideia que daí a uma década os meios iriam ser como são hoje.
S.M.: Este último trabalho, que colige temas de toda a vossa carreira, está dividido em dois capítulos, um mais obscuro que o outro. Achas que MK tem mesmo essas duas facetas?
M.K.: O “Possessive Memories” é, de facto, um trabalho que colige temas dispersos que foram, de alguma forma, remetidos para a gaveta ao longo dos anos. O primeiro CD, tem apenas temas compostos nos primeiros anos, com muito poucos recursos. Muitos deles não passam, apenas, de experiências com meios ou processos fora do habitual, daí que, muitas vezes, a tónica não tenha sido posta no carácter emotivo. Contudo, reconheço que o projecto tem uma faceta que explora paisagens mais obscuras e outra mais experimental.
S.M.: Que pretendes alcançar com os outros projectos que achas que não possas fazer em MK?
M.K.: O projecto Mikroben Krieg é um projecto muito pessoal. Ao longo dos anos, tem sido quase um diário onde se escreve sobretudo acerca de dúvidas, preocupações, anseios, medos e fraquezas. Ninguém faz ideia de tudo o que está, tão claramente, imortalizado nesses trabalhos. Contudo, é um projecto no qual quero manter algum rigor e disciplina estética, onde a herança da velha música industrial esteja sempre presente. Nos outros projectos a solo, procuro explorar outras áreas musicais que também me agradam, mas que são, normalmente, bem mais claras, não se coadunando com a ambiência característica do projecto MK.
S.M.: Achas que irás multiplicar-te em mais projectos ou cada vez mais te reverás nos MK?
M.K.: Há certas cedências que considero não poderem ser feitas nos MK. Este será sempre o meu projecto principal, aconteça o que acontecer. Mais de um terço da minha vida teve como banda sonora este projecto e pretendo que tal continue a acontecer. Tenciono, por isso, continuar a desenvolvê-lo. A curto prazo, planeio também apostar em força no projecto Cellular, porque tem muito a ver com alguns aspectos da minha vida actual. É um projecto bem mais luminoso e explora áreas relacionadas com a electro-synth pop. Para além disso, a forma de composição é completamente diferente e agrada-me explorá-la.
S.M.: Que tal tem sido a aceitação do vosso trabalho, quer aqui, quer no estrangeiro?
M.K.: A aceitação deste tipo de trabalhos deve apenas ser avaliada no seu contexto restrito. Esta é uma área muito pouco divulgada e, por isso, muito pouco conhecida. Não duvido que, com outro tipo de divulgação, haveria muito mais gente interessada nestas sonoridades menos imediatas. Para além disso, os nossos críticos de música não estão, regra geral, capacitados para falar acerca delas e, por isso, tendem a evitá-las. Por esse motivo, tudo aquilo que se vai conseguindo por cá é digno de registo. Posso dizer que a reacção de quem está mais por dentro da cena tem sido deveras gratificante. E a crítica especializada tem sido muito encorajadora, a nível nacional e, especialmente, a nível internacional.
S.M.: Consegues imaginar-te a viver dos teus projectos musicais ou achas que, mantendo um emprego "normal", conseguirás manter a integridade artística da tua música?
M.K.: Para mim, compor é um modo de vida e não uma forma de viver. Julgo que se não tivesse um emprego seria, aí sim, obrigado a comprometer a integridade artística da música que componho, para me assegurar que ela me daria dinheiro para sobreviver, tornando-a um produto rentável. Seria obrigado a compor, compulsivamente, perdendo a espontaneidade. Para mais, se a minha música fala da minha vida, que interesse teria se não falasse de uma vida normal, como a do cidadão comum? Como poderia alguém identificar-se com ela?
S.M.: A edição pela Thisco foi um passo em frente importante? Como surgiu esse contacto?
M.K.: Sem dúvida que foi um passo importante, sobretudo pelas novas ligações que permitiu estabelecer, aumentando o leque de visibilidade do projecto, e pela promoção que a edição recebeu na imprensa especializada. A colaboração com a Thisco vem de há já alguns uns anos, em grande parte pelo facto de me identificar com a sua perspectiva cultural e artística.
S.M.: Como surgem as colaborações com outros músicos/pessoas? São vocês que os procuram, são eles que vos procuram, são ambas hipóteses?
M.K.: Já aconteceram ambas situações. De facto, ao longo dos anos tenho tido a sorte de poder colaborar com outros músicos e artistas em inúmeros projectos, algumas vezes através de contactos por minha iniciativa, outras por iniciativa da outra parte. Mas o mais frequente é a ideia surgir numa conversa ou troca de impressões.
S.M.: A ideia de fundir estilos diferentes é algo que pretendes continuar a seguir?
M.K.: Para ser honesto, essa fusão não é intencional, acaba por acontecer de forma espontânea, talvez por causa do vasto leque de músicas que ouço. Como julgo que continuarei a ouvir música de diversas origens estéticas, penso que acabarei por continuar a deixar inspirar-me por elas.
S.M.: Pensas em reeditar, na íntegra, os trabalhos anteriores (especialmente os mais antigos)?
M.K.: Sim, até porque apenas tenho os primeiros trabalhos em cassete, no seu formato original. Penso, por isso, na possibilidade de os editar num formato e suporte actual, mais fáceis de reproduzir.
S.M.: Quais os próximos passos?
M.K.: Acima de tudo, continuar a explorar sentimentos, meios e processos, como tenho feito até hoje. Mas algumas surpresas se estão a delinear, algumas delas bastante interessantes. Fiquem atentos!
S.M.: Tem sido difícil arranjar espectáculos ao vivo ou nem por isso?
M.K.: Admito que os sítios disponíveis para manobras artísticas menos convencionais não são muitos, mas aquilo que realmente me tem faltado é tempo, pois já tive que recusar alguns convites. É o problema de não viver da música! Reconheço que, neste aspecto, a Thisco tem sido muito importante na angariação de datas e locais para tocar.
S.M.: Achas que MK é mais de estúdio que ao vivo ou achas que as duas vertentes se conciliam facilmente e sentes-te à vontade em ambas?
M.K.: A fatia grande do meu esforço no projecto vai para a composição e produção de novos temas. Não considero haver interesse em tocar muito ao vivo e sempre os mesmos temas. No entanto, a experiência ao vivo é outra: enquanto no estúdio és tu, as máquinas e os teus sentimentos, ao vivo há um outro elemento, o público. Aí deixa de ser um exercício de simples introspecção e interiorização para se tornar numa forma de comunicação, de exteriorização. Esse elemento é determinante para o prazer que a performance dá. Além disso, a reacção do público é sempre geradora de sensações fortes, para o bem ou para o mal, não havendo meio-termo.

Para os interessados, aqui ficam possíveis contactos:
mikroben.krieg@mail.pt
http://mikrobenkrieg.cjb.net/
http://profile.myspace.com/mikroben


Photobucket - Video and Image Hosting

Mikroben Krieg - Possessive Memories [95>06] (2xCD, 17+14 trk., 76+68m), 2006 Mikroben Krieg (9/10)

Estando dividido em dois CD’s, respectivamente intitulados “Silver” e “Dark”, este trabalho dos MK representa o somatório de uma carreira prestigiosa, tendo a grande mais valia de recolher temas e composições que não tinham sido editados antes, nos quais pontilham prestações ao vivo e versões alternativas.
Da primeira à última composição, está presente o ecletismo musical deste projecto, já que as sonoridades, que passam pelo EBM (Electronic Body Music), Electro-Industrial, Future Pop, Industrial ou Tribal, se inter-cruzam, mesclando-se, algumas vezes, com referências ao Trance ou ao Jungle, mas sempre com um carácter experimentalista (com tónica na vertente industrial) e um forte cunho pessoal.
Todas as composições expressam vivências intensas e transmitem emoções ou pensamentos que, quase sempre, são um reflexo directo das nossas próprias existências, fruto de um mundo cada vez mais mecanizado e distante, inóspito mesmo. Aliás, por coincidência ou não, e curiosamente, a sonoridade do projecto parece radicalizar-se na passagem do primeiro CD (“Silver”), que abarca os primeiros tempos de existência, para o segundo (“Dark”), com composições mais recentes, e que parece indicar um endurecer de posições e um concretizar de intenções que, talvez devido à melhoria dos meios de trabalho à disposição e/ou à confiança ganha com a experiência, se tornam mais vincadas e obscuras.
Um trabalho a adquirir e que demonstra que projectos alternativos, sonoramente mais radicais, têm potencialidades para vingar.

Sunday, May 14, 2006

Steel Warriors Rebellion

Completando quase uma década de existência, o Steel Warriors Rebellion, Barroselas Metal Fest, impôs-se já, quer a nível nacional, quer a nível internacional, como um dos maiores e melhores festivais dedicados aos subgéneros do Hard’n’Heavy, quer pela quantidade de bandas participantes, quer, e acima de tudo, pela qualidade dos nomes que passam pelos seus palcos. Tendo decorrido, a mais recente edição, nos dias 28, 29 e 30 de Abril, fomos saber um pouco mais acerca deste importante evento.

S. M.: Como surgiu a ideia de organizar este festival?
SWR: Antes disto, já organizávamos concertos. Depois, as coisas cresceram à volta de uma banda, os Golden Pyre, da qual éramos elementos. Mais tarde, ainda sem projecto definido e a título individual, começamos a organizar concertos com mais frequência, até que, por fim, nos decidimos por um mini-festival, em que tocaram três bandas portuguesas e uma espanhola. O festival repetiu-se e, a partir do terceiro ano, criamos uma associação para a realização de eventos. Paralelamente, também tínhamos um fanzine, o que nos permitiu dinamizar os eventos e arranjar contactos.
S. M.: Quais os momentos mais altos e os mais baixos, até agora?
SWR: Os momentos mais baixos foram o cancelamento do concerto dos Mayhem, por parte da banda, e a invasão do cemitério de Barroselas, que as pessoas ligaram ao festival.
O mais alto verificou-se em 2005, uma vez que garantimos as condições que queríamos para o festival, reunimos um óptimo cartaz e mesmo a nível das comodidades do parque de campismo tivemos boas condições. Em suma, correu tudo bem.
S. M.: Como tem sido a reacção por parte das bandas e do público?
SWR: A nível das bandas, tem havido uma boa opinião acerca do festival, pois sendo uma organização familiar, mas ao mesmo tempo profissional, temos um contacto mais directo com elas, ao mesmo tempo que lhes garantimos todas as condições que elas requerem.
Quanto ao público, no início sentimo-nos um pouco desiludidos, mas agora as pessoas já vão pelo festival em si, não só pelo cartaz que apresentemos.
S. M.: Qual a projecção que já têm?
SWR: Modéstia à parte, somos o melhor festival a nível nacional! Já começamos, também, a ser uma referência internacional, mas continuamos a sentir o facto de estarmos na periferia da Europa, facto que limita a dimensão do evento. Para tentar ultrapassar isto, vamos apostar em Espanha como público-alvo, promovendo viagens de baixo custo.
S. M.: O facto de não se realizar em Lisboa ou Porto tem mais de positivo ou de negativo?
SWR: Tem mais de positivo que de negativo, quanto mais não seja porque marca a nossa terra como “Meca” das sonoridades extremas e coloca Barroselas no mapa. De negativo há apenas a dificuldade em nos afirmarmos.
S. M.: Que apoios têm tido?
SWR: Os apoios têm sido ínfimos, para aquilo que necessitamos. O associativismo é pouco apoiado em Portugal, especialmente se ligado a sonoridades mais radicais.
S. M.: Já pensaram em gravar o festival para o editar?
SWR: Há, de facto, material gravado mas, devido à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e à sua política asfixiante, é impossível fazê-lo, uma vez que é preciso pagar licenças exorbitantes.
S. M.: A que outras actividades se dedica, então, a vossa associação?
SWR: Basicamente, fomos evoluindo. Em 1994, iniciamos as actividades com o fanzine “Metalurgia”. Isto proporcionou a que surgisse uma distribuidora homónima, que ainda hoje existe. Depois, fomos organizando alguns concertos pontuais, associados à “Metalurgia”. Em 1997, surge a nossa banda, os “Golden Pyre”, e, pouco depois, iniciamos o festival. Já em 1999, damos início à associação, o Núcleo de Apoio às Artes Musicais (NAAM), onde apoiamos vários estilos musicais no âmbito do Rock. Dentro do NAAM, mantêm-se os “Golden Pyre”, a distribuidora, a organização de eventos, quer musicais quer de outro tipo (exposições, cinema, etc.), e a restauração do espaço onde se realizam esses eventos, o Alambik Club. Além disso, e em colaboração com a junta de freguesia, organizamos a animação cultural de verão, também ela incluindo eventos diversificados. Realizamos, também, uma série de concertos, chamada “Warm Ups”, que não é propriamente um concurso mas sim uma forma de apresentar e apreciar bandas que ainda não gravaram.
S. M.: Quais, então, os vossos próximos passos?
SWR: Primeiro que tudo, consolidar o festival. Vamos tentar torná-lo gratuito e acessível a todas as pessoas. Paralelamente, vamos tentar desenvolver as outras actividades de uma forma mais contínua e dinâmica.

O festival promete voltar para o ano. Entretanto, os interessados em obter informações, podem contactá-los através dos seguintes endereços:
http://www.swr-fest.com/
barroselas_metalfest@hotmail.com

Tuesday, May 09, 2006

The SymphOnyx

Tendo em mão a recente edição de um CD-single (que inclui um vídeo) e um longa-duração, ambos a cargo da Ethereal, aproveitamos o pretexto para entrevistar os The SymphOnyx.

S. M.: Antes de mais, descrevam-me estes anos de carreira…
S.: Portugal continua a ser muito pequenino e as pessoas não acreditam nas bandas portuguesas.
S. M.: Então, o que é que vos manteve ao longo destes anos?
S.: A persistência naquilo em que acreditamos. Já desde os inícios, em 1997, e com a gravação do “Psico-Fantasia”, que acreditamos no que fazemos. Acreditamos tanto que, a meio das sessões, decidimos gravá-lo em formato CD em vez de só em maqueta. Isto foi arrojado da nossa parte, uma vez que a cassete era o formato usual e o uso do CD como forma de apresentação era um formato praticamente novo. A crença no nosso projecto foi, portanto, ao ponto de sermos pioneiros numa fronteira que nenhuma banda local se arriscava a desbravar.
S. M.: Como é que conseguem conciliar a vida profissional, a familiar e a musical?
S.: É muito complicado, mas há regras e há que ter espaço para tudo. Todos temos empregos, pois há que pagar as contas no fim do mês e ganhar para viver. Também já todos somos casados, alguns com filhos, e isso é muito importante. Portanto, há que conciliar o que mais se gosta, dentro disso, de forma a que o impacto dos ensaios e concertos provoque o menos danos possíveis na vida profissional e pessoal. Paralelamente, são as nossas esposas quem mais nos apoia a nível de carreira musical.
S. M.: Quais as principais mudanças sonoras e composicionais ao longo do tempo?
S.: É difícil responder a isso… Foram todas devidas à evolução que sofremos, quer como pessoas, quer como banda.
S. M.: Qual a importância do trabalho gráfico nos vosso trabalhos?
S.: Em todos as edições é tão importante como o disco em si, não se devendo ao acaso. Tem que, necessariamente, transmitir o estado de espírito da música.
S. M.: A comunicação com o público é importante? Porquê?
S.: Nós queremos que, num espectáculo, as pessoas desfrutem o máximo possível, que façam parte do momento.
S. M.: Como é que surgiu o contacto com a Ethereal, após duas edições a expensas próprias?
S.: Antes deste contacto, houve outras editoras que nos contactaram. Dentro das propostas que nos foram apresentadas, pareceu-nos que a Ethereal, como tinha poucas bandas no seu catálogo, poderia dedicar-se mais ao nosso trabalho.
S. M.: Porquê o hiato entre os lançamentos e o que é que sucedeu entretanto?
S.: Realizaram-se concertos e trabalhamos na elaboração de um primeiro longa-duração. O disco já está pronto desde 2004, mas só agora é que pode ser lançado.
S. M.: A música que costumam ouvir corresponde àquela que compõem?
S.: Cada um tem os seus gostos e transmite-os nos ensaios.
S. M.: O “Sophia”, que era quase um vosso ex-libris, foi abandonado dos espectáculos ao vivo. Porquê?
S.: Isso correspondeu a uma opção, pois fechou-se um ciclo que ela representava.
S. M.: Em termos de duração, vocês são a banda com maior longevidade (e com mais trabalhos editados) no concelho de Guimarães. Isso significa algo para vocês? Cria-vos alguma responsabilidade ou nem sequer se apercebem disso?
S.: Nunca tínhamos pensado em tal. O facto de acreditarmos na música que fazemos é que é relevante. Não assumimos, para já, a responsabilidade da nossa longevidade nem de edição de trabalhos, mas não podemos negar que temos orgulho nisso.
S. M.: Se, anteriormente, tinham já dois registos editados (o já referido “Psico-Fantasia”, de 1997, e o “Utopia”, de 2000), porquê intitular o álbum de “Opus I”?
S.: Porque, como já referimos, fechamos um ciclo e estamos a abrir um novo, do qual este trabalho é a primeira obra.
S. M.: O que é têm agendado para breve?
S.: Temos alguns contactos feitos mas que, para já, ainda não estão confirmados. Por tal, preferimos não falar disso ainda.

Tanto o CD-single (“Winterfall”) como o álbum (“Opus I: Limbu”) já se encontram no mercado. Os interessados em os adquirir podem tentar através de:
http://www.etherealsoundworks.com/


The SymphOnyx - Winterfall (CD-s, 3 trk. + vídeo, 13m), 2005 Ethereal (8/10)
The SymphOnyx - Opus I: Limbu (CD, 10 trk., 52m), 2005 Ethereal (8/10)

A sonoridade deste novo trabalho, onde as matrizes sonoras e composicionais classicistas se mesclam profundamente com uma componente de Hard Rock épico, de Rock Progressivo e de Neo-Clássico, vaga por entre paisagens que não andam longe do Gótico e mesmo do Gothic ou Black Metal. Para este efeito em muito contribui a presença marcante de uma voz feminina, a título mais permanente, que vem trazer um carácter mais etéreo às composições.
Adensando a atmosfera vivida ao longo de todo o disco, as líricas, cuidadas e sentidas, vagueiam por entre meandros poéticos evocantes de um romantismo por vezes lúgubre, mas pontilhado por refrões fortes e apelativos que se entranham na pele e na alma.
Apresentam-se, pois, com uma sonoridade mais vincada que nos anteriores registos, mercê, também, de um trabalho de produção mais cuidado e adequado, que, verdade seja dita, já há muito mereciam.
Quanto ao CD-single, há apenas a salientar que, de facto, a sua escolha recaiu na canção mais forte do álbum, sendo o tema “Winterfall apresentado em duas versões (além do vídeo), incluindo, também, uma versão acústica do tema “Be Live” do mesmo disco.

Genuyn

Tendo editado um CD-EP, a expensas próprias, os Genuyn estão a tentar singrar por entre o meio musical e afirmar-se como proposta alternativa ao marasmo sonoro que quase sempre impera por este país fora. Fomos, por isso mesmo, falar com eles.

S. M.: Porquê o nome Genuyn? Sentis-vos genuínos?
G.: Encontrar um nome estava a revelar-se tarefa difícil. Queríamos ter um nome simples e apelativo e este serviu perfeitamente os nossos propósitos. O facto de ser escrito com um ípsilon (y), prendeu-se com questões visuais e estéticas, pois chama mais a atenção.
S. M.: Contem-nos um pouco da vossa história…
G.: Começamos a tocar há cerca de onze ou doze anos. Formamos, então, uma banda de versões, os Rupptura, onde tocávamos, basicamente, versões de Hard’n’Heavy. Isto fez-nos ganhar experiência, pois exigia-nos evolução a nível técnico, bem como coesão como grupo e complexificação sonora.
Depois, surgiram os Black Sapphyre. Aqui já tocávamos os nossos próprios originais, numa linha de Melodic/Power Metal. Chegamos a ter boa resposta a nível internacional, especialmente no Brasil, mas o desenvolver do projecto implicaria a nossa mudança para lá. Inclusive, na “Rock Brigade”, fomos comparados com o álbum “St. Anger” dos Metallica, onde eles diziam que o som típico desse álbum era nosso, enquanto os Metallica se tinham limitado a apresentar as versões demo do mesmo!
S. M.: Então porquê a mudança sonora? Foi consciente ou deveu-se ao acaso?
G.: Acima de tudo deveu-se à desistência de elementos da banda, nomeadamente do vocalista (que já vinha dos Rupptura). Os restantes elementos tomaram, então, a opção consciente de mudar de sonoridade. Houve uma mudança de nome e de estilo musical.
S. M.: Como banda, que expectativas vos oferece Guimarães?
G.: Até oferece boas, uma vez que é relativamente fácil arranjarmos concertos.
S. M.: Este CD é a afirmação do quê?
G.: Serve, principalmente, como uma demo, uma apresentação do nosso trabalho e da Genuyn Corporation. Tivemos contactos para editá-lo pela Ícone Discos, mas recusamos pois é apenas uma mostra do que nós fazemos actualmente.
S. M.: Como é que funciona a composição dos temas?
G.: Basicamente, há dois compositores principais. Costumamos, primeiro, compor a música e, só depois, as letras, que incidirão sobre temáticas pré-estabelecidas entre nós.
S. M.: As influências de outras bandas são importantes ou são apenas meras referências?
G.: Reconhecemos as nossas influências, que passam pelos Queen, Muse, Sistem Of A Dawn, Dream Theatre, …
P. G.: Que outros grupos ou artistas portugueses vos dizem algo?
G.: O Gonçalo Pereira, que tocou com o Paulo Gonzo.
P. G.: A música interfere nas vossas vidas pessoais e profissionais?
G.: Não interfere! Vem sempre em primeiro lugar!

Os interessados em os contactar, podem fazê-lo através do e-mail genuyn_info@hotmail.com ou pelo 965620676.

Genuyn - Random (CD, 5 trk., 29m), 2005 Genuyn Corporation (6,5/10)
Este primeiro trabalho, que serve como apresentação do som desta banda, mostra que, de facto, os Genuyn estão a tentar ocupar um espaço próprio dentro do panorama musical português.
Com uma sonoridade que equilibra o Rock com o Indie-Pop, notam-se, aqui e ali, alguns traços de caminhos mais “hard” percorridos anteriormente, ao mesmo tempo que uma certa atmosfera de sonoridades mais ligadas ao Grunge se insinua por entre as composições.
Apesar de ser o primeiro esforço desta banda, os temas apresentados já revelam bastante consistência, embora às vezes pareça haver uma certa hesitação nos caminhos a percorrer.
Contendo cinco faixas, uma delas sendo uma versão do clássico “My Way”, o destaque vai, sem sombra de dúvida para a pérola chamada “I Can’t”, uma canção na plena acepção do termo e que tem tudo para se tornar num tema de culto.
Resta agora esperar para ver o que um novo trabalho nos irá trazer.

Ataraxia

Photobucket - Video and Image Hosting

Formados na segunda metade da década de 80, os Ataraxia foram percorrendo um longo caminho até à edição das primeiras demos, “Prophetia” e “Nosce Te Ipsum” (em 90 e 91, respectivamente), até que, em 94, editam os primeiros trabalhos em CD, “Ad Perpetuam Rei Memoriam” (que colige trabalhos anteriores) e “Simphonia Sine Nomine” (trabalho de originais).
Não sendo estreantes em Portugal, pois já actuaram em Lisboa e Leiria, é a primeira vez que vêm ao Norte, tendo pisado o palco da Casa das Artes de Famalicão. Juntamente com a webzine “Sons Ocultos” (SO), aproveitamos a ocasião para proceder a uma entrevista.

S. O.: Antes de mais, gostaríamos de agradecer aos elementos dos ATARAXIA a oportunidade de fazer esta entrevista. Foi um longo caminho, desde a primeira promo-tape até aos dias actuais, desde as tendências góticas ao cabaret noir. Existe uma evolução natural desde esses dias até agora?
A.: Sim, natural, mas não previsível. Nós temos diferentes paixões musicais (música clássica, barroca, medieval, cabaret e música ritual), e, portanto, houve algumas experiências interiores que nos levaram até a este projecto. Ainda durante este ano, temos dois projectos que são muito diferentes um do outro: o primeiro será ritual e ligado a antigos ritos pagãos, o outro a cabaret.
S. M.: Os Ataraxia usam muitos idiomas. Sentem que cada idioma está ligado a sentimentos que querem expressar? E, no seguimento da mesma pergunta, como vos soa o Português.
A.: Eu (Francesca) gosto muito da língua portuguesa e compreendo-a. Não sei dizer o porquê, pois nunca a estudei, mas soa-a me muito natural. É difícil de falar, mas acho-a muito musical. Esperamos poder cantar outra vez na vossa língua, pois é mesmo muito musical. Respondendo à primeira pergunta, sim, nós escolhemos o idioma dependendo da atmosfera do tema. Eu gosto muito do Francês, pois é uma língua muito romântica, embora também muito grotesca em alguns temas estilo cabaret. Começamos, também, a cantar em Italiano, o que tem sido bastante raro. Um dos próximos álbuns será quase todo cantado em Italiano, o que é bom. O Inglês é, também, uma linguagem muito musical. Temos, ainda, alguns temas em Espanhol e Latim. Nós apreciamos muito as nossas antigas raízes linguísticas, o Latim e o Grego.
S. O.: A primeira coisa que nos vem ao pensamento, quando dizemos o nome Ataraxia, é a palavra “medieval”. As pessoas tendem a misturar Ataraxia com música medieval. Está errado pensar assim ou, simplesmente, mantêm isso no pensamento e continuam em frente para outros estilos?
A.: Nós seremos sempre medievais no nosso coração! Aliás, nós começamos, há alguns anos atrás, com essa definição. Iremos trabalhar, outra vez, com música medieval, mas não gostamos de manter um rótulo, pois todos nós temos muitos gostos e muitas coisas para desenvolver e para fazer. Em Itália, por exemplo, no próximo Verão, iremos actuar em vários castelos e locais medievais, que são óptimos para esse estilo musical. Contudo, dentro de um teatro existem coisas mais naturais para se fazer.
S. M.: Vocês usam mitos como parte de uma metáfora que tentam transmitir às pessoas que ouvem a vossa música. Mas, serão eles apenas uma metáfora ou reflexos de uma redescoberta cultural dos possíveis significados desses mitos ancestrais? Há, por exemplo, a Atlântida, um mito que utilizaram muito bem…
A.: Tentamos sempre escrever as letras, e compor as músicas, a pensar nas experiências pessoais que tivemos. Portanto, e no caso do "Lost Atlantis" (álbum de 1999), houve um ano em que passamos as nossas férias na Turquia e na Grécia, tendo sentido profundamente essa presença, tipo memória ancestral. Não foi escrever ou tentar escrever sobre algo…
S. M.: O antigo significado com o novo sentido que queriam expor?
A.: Sim! Muitas coisas estão perdidas e os tempos modernos não são os tempos que preferimos, pois muitas coisas são superficiais, e, quando usamos tecnologia, sentimo-nos, por vezes, incomodados. É muito importante encontrar, novamente, uma relação com a Natureza. É por essa razão que, normalmente, falamos de rituais pagãos e de coisas que estão mortas, pois estabeleciam uma ligação muito íntima entre o ser humano e a Natureza
S. O.: No último trabalho, “Kremasta Nera”, parecem estar a voltar às vossas raízes musicais, ao mesmo tempo que tentam inovar através do recurso à tecnologia. Acham que conseguiram usar esses mesmos pensamentos e sentimentos através de toda essa tecnologia?
A.: Sim, e de uma forma natural, pois tudo o que é medieval, ou mais antigo ainda, pode ser traduzido com instrumentos actuais, até porque nós não vivemos nessa era. Embora sintamos que pertencemos a essa era, também pertencemos à actual. Nós gostamos de transformar os temas. As impressões, as sugestões que, talvez, as pessoas partilham com rituais antigos ou sentimentos, podem ser traduzidas para linguagem moderna.
S. M.: Vocês já estiveram cá em Portugal algumas vezes. Além disso, gravaram cá uma performance ao vivo, “Os Cavaleiros do Templo”. Portugal induziu-vos alguma forma de sentimentos importantes? Não somente pelos Templários, que têm uma vertente esotérica, mas, por tudo relacionado?
A.: A primeira vez que eu (Francesca) visitei Portugal, foi durante umas férias. Estive uma semana em Lisboa e, depois, voltei mais duas ou três vezes, pois fiquei completamente encantada e fascinada com o vosso país e pela sua atmosfera. Eu senti o silêncio dos claustros, a beleza das catedrais, o lado medieval do país. Depois comecei a conhecer, também, a "art deco" e a decadência. Fiquei encantada com a decadência de Lisboa e de outras cidades. Senti uma paz e um ritmo aprazíveis, coisa que não sinto em algumas cidades italianas, que são muito stressadas. Muitas pessoas que nós conhecemos em Portugal, não ouvintes, mas organizadores, dizem-nos: "Porquê Portugal? A Itália é melhor!" Existe algo que eles não gostam neste país, o para nós é incompreensível, pois adoramos Portugal. Encontramos aqui lugares, atmosferas e sentimentos incríveis!
S. O.: Já estiveram em Sintra?
A.: Sim, já estivemos duas vezes Sintra, mas também estivemos em Tomar, Alcobaça…
S. M.: Se chegassem ao “Top Ten” em Itália, como é que se sentiriam? (risos) Pergunto isto porque os This Mortal Coil já estiveram no “Top Ten” em Portugal, com o tema “Song To The Siren”, por isso…
A.: É impossível, mas... (risos) Não sabemos responder, mas depois de tantos anos a tocar e a criar música, penso que não teríamos uma reacção estranha, diferente da actual.
S. O.: Gostaríamos de vos agradecer por esta entrevista e esperamos que venham a Portugal frequentemente. Continuem o bom trabalho! Para terminar, gostaríamos de umas ultimas palavras para os nossos leitores…
A.: Últimas palavras? Que querem que digamos? Algo de bom, algo de mau?... (risos)
S. M.: Algo de verdadeiro… (risos)
A.: São frases banais e superficiais, mas gostaríamos de agradecer a todos em Portugal pelo vosso constante empenho, e estamos honrados pela vossa presença nos concertos de Ataraxia. Muito obrigado!

Quanto a contactos, são os seguintes:
http://www.ataraxia.net/
pando@misterweb.it
http://www.arkrecords.net/
http://www.sons-ocultos.inet.pt/

Ataraxia - Arcana Eco (Obscura I) (CD, 7 trk., 36m + Digibook), 2005 Ark Records (9/10)
Photobucket - Video and Image Hosting

Este novo trabalho dos Ataraxia, constitui o primeiro volume da série “Obscura” que a editora, Ark Records, pretende lançar.
Para além da componente áudio, com quatro temas novos e três vestidos com novas roupagens, inclui um digibook com letras, fotos e uma descrição, em seis capítulos, do evoluir da carreira deles desde os primórdios até à actualidade. Trata-se, acima de tudo, de um mimo para os fãs, embora sirva de excelente cartão de visita para aqueles que ainda não estão familiarizados com a sua obra.
Para quem tem vindo a acompanhar a sua carreira, este trabalho não trará, propriamente, algo de totalmente novo. Contudo, a beleza inerente a cada composição, consegue fazer-nos suster a respiração até ao último minuto, mergulhados que estamos no receio de, ao o fazer, cometermos qualquer acto sacrílego.
Oscilando entre sonoridades neo-clássicas e medievas, por entre as quais se vão insinuando algumas mais tradicionais e telúricas, e onde, por vezes, ainda se notam alguns traços de gótico/wave que marcou os seus inícios, a voz única e perturbadora de Francesca Nicoli tece melodias de uma forma delicada mas firme, por vezes austera, mas sempre generosa na entrega.
As atmosferas criadas, alternam entre o épico, por vezes aproximando-se do operático, e o melancólico, sendo poderosas no seu equilíbrio delicado e catártico. O silêncio, constituindo parte integrante da musicalidade, entrelaça-se em cumplicidades com memórias de outros tempos, de outras vidas, ao mesmo tempo que reforça a comunhão com o sagrado, com ecos transformados em lamentos daquilo que foi mas se perdeu na névoa do tempo.
Um disco intemporal, a devorar com urgência!

Monday, May 08, 2006

Dicionário de Bandas de Guimarães

Para começar esta série de artigos, lembrámo-nos de elaborar um pequeno rol de bandas e projectos musicais que tiveram origem ou sede no Concelho de Guimarães. Os meus agradecimentos vão, desde já, para todas as pessoas que contribuíram com informações para esta pesquisa.
Esta lista peca por não ser completa, uma vez que a memória tende a atraiçoar-nos ou desconhecemos, pura e simplesmente, a existência de vários grupos que por cá tenham surgido. Por tal facto, pedimos desculpa aos que não virem aqui o seu nome e agradecemos, desde já, todas as informações ou registos que nos possam enviar, com vista a tornar esta listagem o mais completa possível.
Paralelamente, aproveitamos para dizer que estamos receptivos a maquetas, gravações promocionais, gravações de ensaios ou ao vivo, de todas as bandas que quiserem para aqui as enviar. A seu tempo, encontrarão o seu nome nestas páginas. Obrigado!

Alliallatas: Banda Pop assumida, com um som cristalino onde pontilhava uma guitarra braguesa, mas de tendências Indie. Embora, nos inícios, tivessem um som um pouco leve, foram-no desenvolvendo e tornando-o mais sério. Gravaram uma maqueta e contribuíram, com dois temas, para a compilação alemã "Breeze 4" (editada pela Viwit Label), tendo, ainda, entrado em estúdio para gravar outro tema para uma colectânea da Underground Records, mas que nunca chegou a ser editada. Há, também, um registo ao vivo. Foram uma das bandas participantes do terceiro Movimento Jovem (MJ).
Alma Picada: Projecto com sonoridade Pós-Punk vincada, com contornos góticos, actuou no mítico MJ I. Não conheço nenhum registo.
Amorak: Praticantes de Black Metal, têm duas maquetas gravadas.
Anomeos: Banda cujas referências se podem procurar nuns U2 dos inícios, bem como em bandas do eixo Manchester/Liverpool e no Pós-Punk, gravaram um ensaio e editaram uma maqueta apenas (cuja distribuição chegou à Alemanha, via Urban Records). Além de terem participado no primeiro MJ, foram a única banda de Guimarães a participar no concurso de Música Moderna Portuguesa organizado pelo já lendário Rock Rendez-Vous (RRV).
Ant: Projecto de sonoridade Lounge/Easy Listening, ganharam o Prémio Maquetas do jornal "Blitz" em 1998 e participaram no festival de Paredes de Coura de 1999.
Ar'Roto: Som nitidamente Pós-Punk, com algumas pinceladas góticas, abriram um dos primeiros, e dos mais marcantes, concertos rock de Guimarães, tocando na primeira parte dos Xutos & Pontapés. Não conheço nenhum registo.
At Twilight: Som denso, obscuro e claustrofóbico, próximo do Gótico dos inícios dos anos 80. Não gravaram nenhum registo.
Banda de Café: Sonoridade que segue a senda de uns Rage Against the Machine. Não tenho conhecimento de qualquer registo.
Barca Do inferno: Unindo um Pop/Rock de excelente veia com sonoridades tradicionais e, por vezes, algum neo-classicismo e neo-medievalismo, editaram, pelo menos, uma maqueta e contribuíram com um tema para a compilação "High Radiation" (da Independent Records), havendo, ainda, um registo ao vivo. Participaram, também, na terceira edição do MJ.
Bergen-Belsen: Som denso e obscuro, de veia Pós-Punk e com algumas dissonâncias Noise. Têm, pelo menos, um tema editado na compilação "Garagem" (editada pela Garagem).
Bino Show & Os Rockers Celestiais: Grupo de Rock'n'Roll e Blues. Não lhes conheço nenhum registo.
Bionic Cells: Projecto na linha do Trance. Não conheço qualquer registo.
Os Bispos: Sonoridade de cariz Pós-Punk. Não conheço nenhum registo.
Black Saphir: Na linha do Power-Metal, têm gravada uma maqueta.
Blasting Oil: Sonoridade pós-Nirvana muito vincada mas que procurava seguir um caminho próprio. Não conheço nenhum registo.
Blindfold: Sonoridade na linha do Nu-Metal. Têm, pelo menos, uma demo gravada.
Bloody Tears: Praticantes de Melodic Black-Metal, têm gravado um CD-single.
Blue Orange Juice: Fortemente influenciados pelos Sonic Youth e Pavement, no início, começaram, depois, a trilhar caminhos mais próprios. Participaram, pelo menos, em duas compilações ("Garagem" e "Noise Sessions", ambas editadas pela Garagem), além de terem editado um 7'' EP e uma cassete promo para as rádios (ambas edições também a cargo da Garagem).
Bordel Corrosivo: Praticando um som que eles definiam como sendo «Arcaico-Industrial», estavam, na verdade, mais próximos, isso sim, do Gótico da primeira metade dos anos 80. Chegaram a gravar um tema de um ensaio.
Cabaret Dell'Arte: Centrando-se no Pós-Punk, a sonoridade percorria, também, ambientes mais intimistas. Não conheço nenhum registo.
Carpe Diem: Praticavam uma sonoridade Pop/Rock, com elementos de electrónica influenciados pelos Soft Cell. Não conheço nenhum registo.
Cio Soon: A sonoridade desta banda unia matrizes electrónicas com guitarras distorcidas. Além algumas demos e de temas em várias compilações ("Garagem" e "Noise Sessions"), chegaram a gravar um CD-single para a Independent Records.
Clockwork: Com elementos de Guimarães e da Póvoa de Varzim, esta banda começou por ter uma sonoridade mais ligada ao Noise-Pop para, depois, evoluírem para um som mais psicadélico, às vezes muito próximo dos Spacemen 3. Participaram em várias compilações (pelo menos na "Garagem" e "Cais do Rock" - esta última editada pela pela LowFly Records), além de terem editado um 7'' (também pela LowFly), dois CD's (em edição de autor) e uma cassete de raridades (pela Chrome Yellow).
Complexus Narcisus: Projecto eminentemente acústico, com proximidades sonoras aos Madredeus ou Frei Fado d'El Rei, tinham, também, algumas influências de Música Tradicional Portuguesa e Irlandesa. Nunca editaram.
Con'Sumo: Embora fossem um grupo maioritariamente centrado em tocar versões, parece que, também, tinham alguns originais de cariz Pop/Rock. Não conheço nenhum registo.
Daemogorgan: praticantes de uma sonoridade Black-Metal purista, têm, pelo menos, uma demo gravada.
Da Firma: Projecto de Hip-Hop. Não conheço nenhum registo.
Dalila Noire: Projecto muito influenciado pelo som dito 4AD, também tinham alguns traços de Dark Folk. Nunca editaram.
Dark Funeral: Praticavam uma sonoridade Black/Death Metal, embora ainda muito embrionária. Mais tarde alteraram o nome. Não lhes conheço qualquer registo.
The Darkness: Projecto que praticava um Rock de forte veia gótica. Não conheço nenhum registo deles.
Death By Drowning: Super-grupo constituído por músicos de várias bandas vimaranenses, apenas tocavam versões de clássicos de pop e rock dos 80's e 90's, não tendo gravado nenhum registo.
The Death Of Me: Projecto acústico na linha do Dark Folk. Não editaram nenhuma maqueta mas há algumas gravações de ensaios.
Defuntos: Mais um projecto com sonoridade Pós-Punk marcada, também foi participante do primeiro MJ. Desconheço qualquer registo.
Delta Works: Praticantes de uma sonoridade entre os Radiohead e os Sigur Rós, ainda não gravaram nenhum registo.
Demófilos: Sonoridade entre o Indie-Pop e o Pós-Punk. Há notícias de terem gravado uma maqueta.
Ego Mysterium: Projecto cuja sonoridade se influenciava no chamado som 4AD. Chegaram a gravar um ensaio.
Eu: Banda de Indie-Pop com forte veia Rock, por vezes com rasgos pós-Grunge. Têm editado um CD-single (via Bigfoot Records).
Ex-Nós: Projecto de cariz Punk agressivo. Nunca gravaram.
Flood: Grupo muito influenciado pelo som de Seattle/Grunge, editaram, pelo menos, uma maqueta.
As Flores da Náusea: Percorriam caminhos entre o Pós-Punk e o Gótico. Editaram uma maqueta e foram incluídos na compilação "T Secret Sessions", editada pelo fanzine Peresgotika. Há, também, um registo ao vivo e um ensaio gravados.
Fora de Mão: Banda de Rock'n'Roll, não tem nenhum registo gravado.
Fragmentos: Grupo Pop, com influências Rock e traços Indie, que chegou a ter bastante sucesso local em meados da década de 90. Se não estou em erro, gravaram três cd's.
Frozen Cruelty: Banda de Black-Metal, têm alguns temas ao vivo registados.
Genuyn: Banda praticante de um Pop/Rock de cariz Indie, com algumas pinceladas Grunge. Têm gravado um CD-single, editado a expensas próprias.
Gnomen: Projecto que funde Música tradicional com algum Jazz. Têm uma demo gravada.
God Skin: Vindos das cinzas do Grunge, aproximaram-se bastante do som dos Therapy?. Participaram com um tema na compilação "Garagem".
Gods' Last Wish: Na linha de um Gótico e Wave muito obscuros e densos, tinham uma sonoridade muito hermética e claustrofóbica. Editaram apenas uma maqueta, havendo, também, excertos de um concerto.
Gothicum Repherae: Sonoridade Pós-Punk, com algumas piscadelas ao Rock Gótico, é mais um dos projectos que participou no primeiro MJ. Desconheço qualquer registo.
Insanidade Divina: Fase embrionária dos Demófilos, praticando uma sonoridade mais incipiente. Não conheço nenhum registo.
In Vein: Projecto de Heavy Metal tradicional, com alguns traços de Thrash. Ainda não gravaram nenhum registo.
Joana Dark: Por entre o Pós-Punk, o Gótico e o Noise, tinham um som denso e enérgico, mas sempre de negro tingido. Uma gravação ao vivo e temas de ensaios são os únicos registos existentes.
Kali Ashti: Fundindo electrónicas ora ambientais, ora na linha da Electronic Body Music (EBM), com duas guitarras melódicas que se complementarizam, e utilizando, também, a guitarra portuguesa, criam uma sonoridade única no panorama Gótico/Wave. Rezam as crónicas que estará para breve a gravação de um primeiro trabalho.
Kamikaze: Com uma sonoridade entre o Punk e o Pós-Punk, há notícias de uma gravação, mas desconheço-a.
Kormoss: Banda que praticava um Black-Metal da melhor cepa, gravaram, pelo menos, três demos e um registo ao vivo.
Let The Jam Roll: Banda que funde o Rock com elementos de cariz jazzístico. Têm, pelo menos, uma demo.
Locus Horrendus: Grupo com uma sonoridade na veia do Black-Metal. Não conheço nenhum registo
L. S. D. (Louvado Seja Deus): Projecto que praticava um Punk primário. Nunca gravaram.
Mantra: Segundo as informações que nos chegaram, são praticantes de uma sonoridade de cariz Funk/Rock. Não conheço nenhum registo.
Mata Qu'é Bicho: Misturando sonoridades na linha dos The Cure com outras próximas dos Iron Maiden, participaram no segundo MJ. Não conheço nenhum registo deles.
Merdicidas: Banda nitidamente influenciada pelos Peste & Sida e Xutos & Pontapés, actuaram no segundo MJ. Não conheço registos por eles gravados.
Milkmen: Sonoridades Pós-Grunge, com algumas características Low-Fi, editaram uma maqueta.
Mittagessen Sturm: Projecto com uma sonoridade Industrial da velha guarda, com uma forte veia experimentalista. Não conheço nenhum registo.
Moribundos: Rockabilly na linha de uns The Cramps, mas com algo de Psychobilly à mistura. Também foram participantes do primeiro MJ. Não tenho conhecimento de qualquer registo.
Mr. Roype & Seus Drunfes: Praticavam uma sonoridade Punk da velha escola. Não chegaram a gravar registos.
Neo-Symphonyx: Projecto de fusão entre a música Clássica (mormente Mozart ou Strauss) e o Rock. Têm, pelo menos, uma demo gravada.
Nightmyheaven: Praticantes de um Metal melódico, têm já gravado, embora a expensas próprias, um CD-single.
Nox Obscura: Banda de Black Metal. Não conheço nenhum registo.
Numb Skull: Situados entre o Grunge e o Nu-Metal, esta banda já tem duas demos gravadas.
Oktober Black: Projecto electro-acústico (no sentido em que usa os dois tipos de instrumentos), apresenta uma sonoridade próxima do Dark Folk, com algum experimentalismo, recorrendo também à Música Tradicional, ao Industrial e ao Pop Etéreo/Wave. Conta com duas demos editadas (a segunda delas destinada, principalmente, à divulgação internacional), bem como com dois temas na compilação "The Nemeth" (pela Reaping Horde).
Opius: Banda que praticava um Pop/Rock com um certo carácter interventivo. Desconheço qualquer gravação.
Outubro Negro: Projecto predominantemente acústico, com uma sonoridade entre o som dito 4AD, os Madredeus e o Dark Folk. Não editaram qualquer maqueta, mas há algumas gravações de ensaios.
Phast & Source: Projecto de um Drum & Bass agressivo, editou um CD promo.
Phast Mike: Outro nome para o projecto antes referido. Drum & Bass agressivo mas com algumas reminiscências de EBM, editou, pelo menos, um 10'' (pela Garagem).
Projecto Anónimo: Banda praticante de uma sonoridade que descendia, directamente, do Rock Progressivo/Sinfónico. Nunca chegaram a gravar.
Queputadebanda: Sonoridade entre o Grunge e o Nu-Metal, mas com a presença de electrónicas. Não tenho conhecimento de qualquer registo.
Quid Juris: Sonoridade que se poderia caracterizar como Indie-Pop. Desconheço qualquer registo.
Quid Novis: Com uma sonoridade Pop/Rock, participaram no segundo MJ. Desconheço qualquer registo.
Ratos Negros: Sonoridade embrionária e incipiente dos futuros Gothicum Repherae.
Restos Mortais de Isabel: Gótico depressivo e metronómico, com um som de baixo poderoso, participaram no segundo MJ. Gravaram duas maquetas, uma das quais teve edição na Alemanha, via Urban Records.
Ritual Profano: Com um som minimalista, inspirado no Pós-Punk, participaram no segundo MJ. Só lhes conheço uma gravação vídeo da sua actuação no referido evento.
Rock Poets: Praticam uma sonoridade entre o Rock e o Punk, tendo no activo a gravação de um CD-promo.
Rupptura: Banda essencialmente dedicada a versões de clássicos de Hard Rock e Heavy Metal. Não conheço nenhum registo.
Samantha: Banda de Thrash-Metal, não chegaram a gravar demos.
Scurf: com uma sonoridade Grunge, gravaram uma maqueta.
Seelen Mess: Banda que sucedeu aos Winter Cry, seguindo a linha do Black/Doom/Death Metal.
Sem Nome: Entre o Rock Alternativo americano e o Noise, com algum Punk à mistura, nunca chegaram a gravar registos.
Seraphitos: Banda de Melodic Black Metal, têm um ensaio gravado.
Ser Luso: Projecto que aliava a estética de um David Sylvian ao intimismo dos Felt, passando pela frescura dos The Go-Betweens e pelas ambiencias do som dito 4AD. Nunca gravaram.
Shattered Dreams: Banda de Gothic-Metal, gravaram apenas alguns ensaios.
Snuffle: Sonoridade na linha de uns Deftones, gravaram uma demo.
Spiral Rain Dance: Sonoridade Pós-Punk bastante melódica e extremamente nostálgica. Não gravaram nenhum registo.
Square: Banda de Power-Thrash, gravaram uma demo.
Stuprum Dei: Praticam uma sonoridade entre o Death e o Black Metal. Não tenho conhecimento de qualquer registo.
Subcultura: Sonoridade Pós-Grunge vincada mas evoluindo para além desses limites. Participaram com dois temas na compilação "1º Festival de Música Komplexus" (editada pela organização), não lhes conhecendo outro qualquer registo.
Subúrbios: Mais um projecto com sonoridade Pós-Punk, teve a peculiaridade de ser a banda com os elementos mais novos de Guimarães. Gravaram uma maqueta e actuaram no segundo MJ, havendo, também, um registo ao vivo.
The SymphOnyx: A sua sonoridade compreende elementos que vão desde o Gótico ao Rock Sinfónico, passando por um Heavy Metal mais tradicional, ao qual se juntam elementos orquestrais de cariz clássico. Têm editados, a expensas próprias, dois CD's-EP's e um CD-single e um álbum (estes pela Ethereal)
Tenebre & Delirio: Projecto que assentava na utilização de baixo distorcido, voz e caixa de ritmos/bateria, produzindo uma sonoridade negra mas rica de texturas, editou uma demo e teve um tema incluído na compilação "T Secret Sessions". Um ensaio e um concerto ao vivo também circulam por aí.
This Art: Banda de Black-Metal. Não conheço nenhum registo.
Träume: Projecto dividido entre Leiria e Guimarães, possuem uma sonoridade situada algures entre o Dark Folk, o Neo-Clássico e o Industrial/Experimental, criando paisagens apocalípticas e desoladas. Têm editado um CD promo e uma demo.
Uoquesomtem: Banda maioritariamente de versões, têm, que eu saiba, um original, sendo este de uma sonoridade melancólica e delicada. Não conheço nenhum registo.
Uzi: Inicialmente com uma sonoridade Pop/Rock um pouco mainstream, evoluíram para um som mais sofisticado e cuidado. Além de duas maquetas gravadas, há a registar a inclusão de dois temas na compilação "1º Festival de Música Komplexus" e uma gravação ao vivo.
Vampiros Sangrentos: Sonoridade Punk da velha escola, mas bastante primária. Não conheço nenhum registo.
Vício Oculto: Som enraizado no Pós-Punk, com algum experimentalismo e recurso a percussões industriais. Não conheço nenhum registo.
Virtuais: Abraçavam um Pop/Rock que, por vezes, nos fazia lembrar as sonoridades das bandas que participavam no saudoso RRV. Que eu saiba, têm, apenas, um tema editado na compilação "Rock In Bracara" (editada pela R. U. M.).
Wanted: Banda de Thrash Metal, gravaram uma demo.
Winter Cry: Mais um projecto de Black/Doom/Death Metal. Têm gravada uma demo.

P. S.: Pedimos desculpas às bandas aqui presentes pelos termos em que descrevemos a sua sonoridade, mas o objectivo é dar uma ideia do tipo de som que possuem, por forma a dar a conhece-las aos seus conterrâneos e, por tal, termos ou referências generalistas são os mais fáceis de empregar para as descrever. Claro que agradecemos as necessárias correcções.