Tuesday, July 25, 2006

MIKROBEN KRIEG

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Possuindo raízes electro-industriais vincadas, os Mikroben Krieg completaram agora uns históricos 11 anos de carreira, facto não muito comum em projectos de cariz underground. Para comemorar tal facto, foi editada agora a dupla colectânea “Possessive Memories”, retrospectiva da sua prolífica carreira, motivo mais do que suficiente para os entrevistarmos.

S.M.: O que significa, para ti, o alcançar 11 anos de actividade com este projecto?
M.K.: Posso dizer-te que me dá muito gosto olhar para trás e perceber o quanto eu e o projecto nos confundimos. O projecto tem sido muito importante no meu crescimento pessoal, pelas oportunidades de reflexão, criação e catarse que me tem proporcionado, mas, também, pela panóplia de gente interessante, inventiva e perspicaz que me tem permitido conhecer. Sinto-me, por isso, muito satisfeito por ter tido a teimosia de manter o projecto activo durante todos estes anos... (risos) Mas o melhor ainda está para vir, esta guerra não tem fim!
S.M.: Quando iniciaste os MK, já imaginavas que iriam atingir esta longevidade e qualidade composicional?
M.K.: Obrigado pelo elogio! Para ser sincero, este projecto nasceu, com pretensões algo inconsequentes, pela mão de um adolescente melómano que conseguiu convencer dois amigos a gravar umas coisas pois queria ter uma banda industrial. Não é um início muito glorioso, é verdade!
Na primeira metade dos anos 90, as coisas tinham outro encanto, outra magia, e a audição de coisas como Einstürzende Neubauten, Psychic Tv ou dos portugueses Ode Filípica, só para citar alguns, revestia-se de uma áurea transcendental absolutamente inspiradora. Aquilo era bem mais que música!
Lutando contra os olhares de estranheza dos colegas e amigos e, sobretudo, contra a falta de meios, o projecto foi-se mantendo, fruto do alcançar de pequenas metas e, especialmente, da satisfação interior que me dava. Os olhares de estranheza foram sendo substituídos pelos de respeito e apoio, a satisfação foi aumentando e a caturrice permaneceu.
A qualidade das composições foi sempre um reflexo dos parcos meios que tinha à disposição. Dos iniciais rádios de onda curta, pedais de distorção, velhos sistemas hi-fi em curto-circuito e auscultadores a servir de microfone, até aos actuais sistemas baseados quase exclusivamente em sintetizadores virtuais, correndo sobre digital audio workstations, o percurso foi longo. É óbvio que isso acaba, inevitavelmente, por ter reflexos naquilo que se compõe. Em 1995, não fazia ideia que daí a uma década os meios iriam ser como são hoje.
S.M.: Este último trabalho, que colige temas de toda a vossa carreira, está dividido em dois capítulos, um mais obscuro que o outro. Achas que MK tem mesmo essas duas facetas?
M.K.: O “Possessive Memories” é, de facto, um trabalho que colige temas dispersos que foram, de alguma forma, remetidos para a gaveta ao longo dos anos. O primeiro CD, tem apenas temas compostos nos primeiros anos, com muito poucos recursos. Muitos deles não passam, apenas, de experiências com meios ou processos fora do habitual, daí que, muitas vezes, a tónica não tenha sido posta no carácter emotivo. Contudo, reconheço que o projecto tem uma faceta que explora paisagens mais obscuras e outra mais experimental.
S.M.: Que pretendes alcançar com os outros projectos que achas que não possas fazer em MK?
M.K.: O projecto Mikroben Krieg é um projecto muito pessoal. Ao longo dos anos, tem sido quase um diário onde se escreve sobretudo acerca de dúvidas, preocupações, anseios, medos e fraquezas. Ninguém faz ideia de tudo o que está, tão claramente, imortalizado nesses trabalhos. Contudo, é um projecto no qual quero manter algum rigor e disciplina estética, onde a herança da velha música industrial esteja sempre presente. Nos outros projectos a solo, procuro explorar outras áreas musicais que também me agradam, mas que são, normalmente, bem mais claras, não se coadunando com a ambiência característica do projecto MK.
S.M.: Achas que irás multiplicar-te em mais projectos ou cada vez mais te reverás nos MK?
M.K.: Há certas cedências que considero não poderem ser feitas nos MK. Este será sempre o meu projecto principal, aconteça o que acontecer. Mais de um terço da minha vida teve como banda sonora este projecto e pretendo que tal continue a acontecer. Tenciono, por isso, continuar a desenvolvê-lo. A curto prazo, planeio também apostar em força no projecto Cellular, porque tem muito a ver com alguns aspectos da minha vida actual. É um projecto bem mais luminoso e explora áreas relacionadas com a electro-synth pop. Para além disso, a forma de composição é completamente diferente e agrada-me explorá-la.
S.M.: Que tal tem sido a aceitação do vosso trabalho, quer aqui, quer no estrangeiro?
M.K.: A aceitação deste tipo de trabalhos deve apenas ser avaliada no seu contexto restrito. Esta é uma área muito pouco divulgada e, por isso, muito pouco conhecida. Não duvido que, com outro tipo de divulgação, haveria muito mais gente interessada nestas sonoridades menos imediatas. Para além disso, os nossos críticos de música não estão, regra geral, capacitados para falar acerca delas e, por isso, tendem a evitá-las. Por esse motivo, tudo aquilo que se vai conseguindo por cá é digno de registo. Posso dizer que a reacção de quem está mais por dentro da cena tem sido deveras gratificante. E a crítica especializada tem sido muito encorajadora, a nível nacional e, especialmente, a nível internacional.
S.M.: Consegues imaginar-te a viver dos teus projectos musicais ou achas que, mantendo um emprego "normal", conseguirás manter a integridade artística da tua música?
M.K.: Para mim, compor é um modo de vida e não uma forma de viver. Julgo que se não tivesse um emprego seria, aí sim, obrigado a comprometer a integridade artística da música que componho, para me assegurar que ela me daria dinheiro para sobreviver, tornando-a um produto rentável. Seria obrigado a compor, compulsivamente, perdendo a espontaneidade. Para mais, se a minha música fala da minha vida, que interesse teria se não falasse de uma vida normal, como a do cidadão comum? Como poderia alguém identificar-se com ela?
S.M.: A edição pela Thisco foi um passo em frente importante? Como surgiu esse contacto?
M.K.: Sem dúvida que foi um passo importante, sobretudo pelas novas ligações que permitiu estabelecer, aumentando o leque de visibilidade do projecto, e pela promoção que a edição recebeu na imprensa especializada. A colaboração com a Thisco vem de há já alguns uns anos, em grande parte pelo facto de me identificar com a sua perspectiva cultural e artística.
S.M.: Como surgem as colaborações com outros músicos/pessoas? São vocês que os procuram, são eles que vos procuram, são ambas hipóteses?
M.K.: Já aconteceram ambas situações. De facto, ao longo dos anos tenho tido a sorte de poder colaborar com outros músicos e artistas em inúmeros projectos, algumas vezes através de contactos por minha iniciativa, outras por iniciativa da outra parte. Mas o mais frequente é a ideia surgir numa conversa ou troca de impressões.
S.M.: A ideia de fundir estilos diferentes é algo que pretendes continuar a seguir?
M.K.: Para ser honesto, essa fusão não é intencional, acaba por acontecer de forma espontânea, talvez por causa do vasto leque de músicas que ouço. Como julgo que continuarei a ouvir música de diversas origens estéticas, penso que acabarei por continuar a deixar inspirar-me por elas.
S.M.: Pensas em reeditar, na íntegra, os trabalhos anteriores (especialmente os mais antigos)?
M.K.: Sim, até porque apenas tenho os primeiros trabalhos em cassete, no seu formato original. Penso, por isso, na possibilidade de os editar num formato e suporte actual, mais fáceis de reproduzir.
S.M.: Quais os próximos passos?
M.K.: Acima de tudo, continuar a explorar sentimentos, meios e processos, como tenho feito até hoje. Mas algumas surpresas se estão a delinear, algumas delas bastante interessantes. Fiquem atentos!
S.M.: Tem sido difícil arranjar espectáculos ao vivo ou nem por isso?
M.K.: Admito que os sítios disponíveis para manobras artísticas menos convencionais não são muitos, mas aquilo que realmente me tem faltado é tempo, pois já tive que recusar alguns convites. É o problema de não viver da música! Reconheço que, neste aspecto, a Thisco tem sido muito importante na angariação de datas e locais para tocar.
S.M.: Achas que MK é mais de estúdio que ao vivo ou achas que as duas vertentes se conciliam facilmente e sentes-te à vontade em ambas?
M.K.: A fatia grande do meu esforço no projecto vai para a composição e produção de novos temas. Não considero haver interesse em tocar muito ao vivo e sempre os mesmos temas. No entanto, a experiência ao vivo é outra: enquanto no estúdio és tu, as máquinas e os teus sentimentos, ao vivo há um outro elemento, o público. Aí deixa de ser um exercício de simples introspecção e interiorização para se tornar numa forma de comunicação, de exteriorização. Esse elemento é determinante para o prazer que a performance dá. Além disso, a reacção do público é sempre geradora de sensações fortes, para o bem ou para o mal, não havendo meio-termo.

Para os interessados, aqui ficam possíveis contactos:
mikroben.krieg@mail.pt
http://mikrobenkrieg.cjb.net/
http://profile.myspace.com/mikroben


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Mikroben Krieg - Possessive Memories [95>06] (2xCD, 17+14 trk., 76+68m), 2006 Mikroben Krieg (9/10)

Estando dividido em dois CD’s, respectivamente intitulados “Silver” e “Dark”, este trabalho dos MK representa o somatório de uma carreira prestigiosa, tendo a grande mais valia de recolher temas e composições que não tinham sido editados antes, nos quais pontilham prestações ao vivo e versões alternativas.
Da primeira à última composição, está presente o ecletismo musical deste projecto, já que as sonoridades, que passam pelo EBM (Electronic Body Music), Electro-Industrial, Future Pop, Industrial ou Tribal, se inter-cruzam, mesclando-se, algumas vezes, com referências ao Trance ou ao Jungle, mas sempre com um carácter experimentalista (com tónica na vertente industrial) e um forte cunho pessoal.
Todas as composições expressam vivências intensas e transmitem emoções ou pensamentos que, quase sempre, são um reflexo directo das nossas próprias existências, fruto de um mundo cada vez mais mecanizado e distante, inóspito mesmo. Aliás, por coincidência ou não, e curiosamente, a sonoridade do projecto parece radicalizar-se na passagem do primeiro CD (“Silver”), que abarca os primeiros tempos de existência, para o segundo (“Dark”), com composições mais recentes, e que parece indicar um endurecer de posições e um concretizar de intenções que, talvez devido à melhoria dos meios de trabalho à disposição e/ou à confiança ganha com a experiência, se tornam mais vincadas e obscuras.
Um trabalho a adquirir e que demonstra que projectos alternativos, sonoramente mais radicais, têm potencialidades para vingar.

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