Tuesday, July 25, 2006

UHF

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Com uma longa e prestigiada carreira, os UHF são, sem sombra de dúvida, uma referência cultural portuguesa e um marco no Rock que por cá se fez e se vai, ainda, fazendo. Sendo incontornáveis para todo e qualquer melómano que se preze, urgia apresentá-los nestas páginas e tentar saber um pouco mais sobre o que ainda os motiva.

S.M.: Como é compor, ao fim de todos estes anos?
UHF: Ainda é uma descoberta e um desafio, é a procura do muito belo a partir do nada, de uma ideia, de umas palavras, de uns acordes. Quando se concretiza a ideia é fantástico; é o acto da criação pura.
S.M.: Desde os inícios que a componente poética é parte indissociável dos UHF, facto que os destaca(va) de muitas bandas. Crêem que é, de facto, uma imagem de marca vossa?
UHF: Penso que a preocupação e o rigor colocados na componente poética colocou sempre os UHF num patamar de comunicação muito próprio, seja a mensagem provocatória, a denúncia ou a mera observação. Sou uma espécie de fotógrafo com palavras.
S.M.: Sendo o António Manuel Ribeiro o único sobrevivente da formação original (e de outras), e mesmo já tendo editado trabalhos a solo, há quem acuse os UHF de serem isso mesmo, um projecto a solo de AMR. O que dizem disto?
UHF: Já editei 2 CD’s a solo e outras coisas a avulso. Há uma diferença enorme entre o faço com os UHF e o que realizo a solo. Não o ver é não querer ver e contra isso nada posso fazer. Cada um vê o que quer ou o que pode. Sobre a “acusação” nada tenho a acrescentar. As pessoas dizem o que quiserem dizer, o que não significa que percebem do assunto ou conhecem o que vai dentro desta casa. Somos figuras públicas habituadas a tudo: elogios, críticas e disparates.
S.M.: Haverá outro disco a solo de AMR ou os UHF preenchem todas as expectativas e necessidades enquanto músico e compositor?
UHF: Depende do tempo certo para fazer uma coisa ou outra: gravar a solo, que faço de tempos a tempos, ou com os UHF, que é a minha vida de todos os dias. Sou um compositor muito prolífero, havendo sempre muito material para editar. Acrescento ainda que escrevo regularmente sobre música e/ou sobre política, tenho três livros editados e preparo o quarto.
S.M.: Uma carreira tão longa tem, como é lógico, os seus pontos altos e baixos. Houve momentos em que já apeteceu por um fim a tudo e seguir outro caminho?
UHF: Oh se houve! Às vezes é muito difícil ser-se português em Portugal e como eu não padeço do complexo judaico-cristão do sofrimento… Claro que o meu lado organizado (por cá uma imensa virtude), a teimosia e disponibilidade criativa fizeram-me sempre regressar às cordas da guitarra.
S.M.: Sendo um dos poucos sobreviventes do chamado "boom" do Rock português, cria isso, nos UHF, alguma pressão para uma evolução constante? Cria algum tipo de sensação de responsabilidade acrescida?
UHF: Não, pessoalmente não sinto nada disso. Por vezes olho para trás e pasmo com coisas muito bonitas e avançadas que fiz numa certa época. Outras vezes, repiso sobre os disparates que não soube resolver. Mas a vida criativa é isso mesmo: almejar o perfeito impossível! É o desafio que dá gozo e nos mantém vivos.
S.M.: Os UHF têm, ainda hoje, a capacidade invejável de criar canções que se tornam hinos, e que como tal se mantêm, independentemente da passagem dos anos. Será essa a chave para a vossa longevidade?
UHF: Não recebendo subsídios estatais, não vivendo da publicidade nem das “amizades” ou da mentira à escala nacional, se estamos cá, se, ano após ano, convencemos quem nos vê em palco, tudo isto se deve às canções de sucesso e ao trabalho continuado na procura da felicidade que uma canção e depois outra proporcionam em nós, primeiro, e no público, depois.
S.M.: Hoje em dia, os UHF ainda palmilham o "país profundo", actuando um pouco por todo o lado. Até que ponto é diferente a nível de sensações e de público?
UHF: Com alguma ironia digo: hoje temos muitas canções por onde escolher e gente que já nos conhece profundamente. Esta é a grande diferença. Saber o que isto vale tornou-nos profissionais sérios mesmo a brincar.
S.M.: A fundação da AM.RA Discos deu-se com o objectivo de conseguirem um maior controlo sobre o vosso trabalho ou destina-se, essencialmente, à edição de alguns trabalhos que achais que não se enquadrariam no esquema de lançamentos "normais" dos UHF? Pretende, também, editar trabalhos de outros artistas?
UHF: A AM.RA Discos deu-nos a possibilidade de, finalmente, sermos proprietários da nossa obra e termos a liberdade de fazer quando e como nos dá na gana, à semelhança do que no estrangeiro outros nomes com carreira o vêm fazendo. Naturalmente que pensamos vir a editar outros artistas.
S.M.: O livro de poemas dos UHF constituiu um marco na vossa carreira, a partir do qual se pretende dar um novo passo em frente?
UHF: Para os fãs, para os mais novos e para os com pouca memória, editei “Cavalos de Corrida – A Poética dos UHF” com pompa e circunstância. Para se chegar a um livro destes é preciso: primeiro, ter uma obra, depois, conteúdo e, a seguir, vontade quixotesca na aridez circundante.
S.M.: Ainda recentemente (2003), os UHF lançaram um duplo álbum conceptual, o "La Pop End Rock", uma "ópera" que, sendo autobiográfica, percorre muitos caminhos, sonoridades e emoções. Pretendem seguir de novo o caminho do conceptualismo?
UHF: Perdoe-me a frontalidade mas “La Pop End Rock” é uma ópera sem aspas e, seguindo a estética e o formato do género, servida por um libreto e várias personagens. Não é um trabalho conceptual; é uma Ópera, ponto final. É a minha obra-prima e não ponho de parte a ideia de repetir o desafio. Naturalmente que este género me permitiu “voar” como compositor e esse foi o gozo maior do criativo.
S.M.: O vosso último longa duração ("Há Rock No Cais"), aproxima-se mais das vossas raízes do que outro qualquer. Pode-se ver nisso alguma influência de terem feito a vossa "autobiografia" no anterior trabalho?
UHF: Em termos musicais sim, ou seja, o quarteto bastou-se a si próprio. Era uma vontade do grupo aplicar esta fórmula, regressar às origens. Se somos quatro em palco e chegamos, transportámos o conceito para o estúdio. Rock puro e cru e uma balada de enorme sucesso.
S.M.: Este último longa duração viu, também, os UHF com uma energia e garra que transmitem uma atmosfera "ao vivo" muito forte, muito directa. É, de facto, nos palcos, que os UHF se sentem melhor e são mais eles mesmos?
UHF: São duas abordagens diferentes: no estúdio repete-se até sair bem; no palco é à primeira que se convence a audiência e está tudo dito. Mas é um facto que o grupo está sempre com fome de palco, vivendo intensamente cada concerto, o entusiasmo das pessoas, a vida na estrada que nos cimenta enquanto equipa – nós e os técnicos –, o desafio de querer chegar mais longe no desempenho. Nós somos assim: o melhor concerto é o que vem a seguir.
S.M.: A pergunta cliché: que novidades podemos esperar para breve?
UHF: Muitas e boas, algumas que posso divulgar e outras não. Para já, a reedição do “Há Rock no cais” em formato duplo, concertos por todo o lado e dois Coliseus (Lisboa a 23/09 e Porto a 5/10) para gravarmos o primeiro DVD e o terceiro disco ao vivo.

Para os interessados, aqui fica um contacto:
http://www.uhfrock.com/

PHANTOM VISION

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Sendo a mais importante banda do underground nacional, e com uma carreira já reconhecida internacionalmente, acabaram de editar o seu mais recente trabalho, “Instinct”, álbum que se encontra na décima posição da tabela alternativa alemã. Foi este o mote que nos serviu para procedermos a esta entrevista.

S.M.: O vosso nome evoca um certo romantismo, fantasmas vitorianos e atmosferas difusas de algo externo que não se consegue bem agarrar. Contudo, as vossas letras evocam algo de mais íntimo, dentro de nós. Havia intenção em ter um nome que jogasse com isso?
P.V.: Para ser sincero, e sem azo para dúvida, o nosso nome não é o que temos de mais identificativo. Na realidade, resulta de uma coincidência distraída, embora feliz. Estarmos aqui a desmontar poeticamente um nome que, na verdade, não teve na sua origem a contribuição de uma qualquer musa inspiradora de cariz divino, era insistir numa fraude desnecessária. Este nome surge da comum necessidade de atribuir uma identidade ao projecto, tão-somente.
No entanto, e após tais declarações de pautada frieza, sinto-me na obrigação de destacar que, não obstante o processo descomprometido a que submetemos essa tarefa, verdade é, também, que o nome que se acabou por eleger faz parte do meu imaginário e não foi, obviamente, lançado ao calhas, tipo “Dead Mushrooms” ou “Flying Umbrella”...
A verdade é que, poeticamente, uma das ideias que mais me atrai é a dos contrastes e, como não é difícil de perceber, é essa essencialmente a ideia chave deste nome... Mais tarde, veio juntar-se uma coincidência valiosa ao processo, valiosa porque, na verdade, considero ser o contributo mais interessante para a imagética do nome, e simultaneamente o mais intrigante, visto tratar-se de um contributo externo ao qual somos totalmente alheios, um contributo com o qual o acaso decidiu presentear-nos... Trata-se da definição científica para o termo Phantom Vision, que é o nome atribuído a uma patologia cerebral, ainda em estudo, e cujos doentes, por força da acção da patologia, vivem de acordo com um mundo paralelo que lhes chega através das imagens que vêm e que o cérebro doente trata de modificar... É uma doença enigmática.
S.M.: Desde os inícios, até hoje, foi uma longa caminhada. Falem um pouco disso...
P.V.: Hum… Longa mesmo!... Não sei por onde começar, uma vez que o início está inalcansavelmente distante... Encurtemos, pois então, a caminhada para metade e comecemos pelos Art of Dark.
A banda surge no início de 1990, fruto da combinação das ideias dos seus cinco elementos fundadores, eu (Pedro Morcego), o Pierre Dumond, o Fernando Ramalho, o Diogo Duarte e o Paulo Sérgio.
Todos nós já tínhamos estado em projectos anteriores, e naturalmente que, para além da relativa experiência que todos tínhamos, havia, acima de tudo, uma enorme vontade de avançar com aquele projecto e de cruzar essas mesmas experiências e ideias na concepção urgente de algo novo.
O resultado, não obstante a minha suspeição, foi tão magnífico quanto reservado. O trabalho da banda ficou registado numa série de gravações descomprometidas e numa maqueta, intitulada “X-Ray Kisses”, gravada no estúdio Tubo de Ensaio, e que permaneceu meticulosamente guardada, em segredo, em gavetas das nossas casas, sem que, infelizmente, tivessem sido divulgadas, de alguma forma, ao público.
Seguiram-se os Electric Wet Dreams, em 1996, resultando, essencialmente, de uma evolução no sentido estético das sonoridades, ou seja, da necessidade de aprofundar criativamente as ideias, as técnicas, as sonoridades, as temáticas e as ambiências criadas com os Art of Dark.
Saíram o Paulo Sérgio e o Diogo Duarte, tendo os restantes elementos assegurado a continuidade, permanecendo o Fernando na guitarra, eu na voz, baixo e programações de uma modesta caixa de ritmos à moda antiga, e tendo o Dumond passado da guitarra ritmo para os teclados.
A partir daí, entre diversas mudanças de line-up e todo o tipo de contratempos, a banda tratou de gravar diverso material promocional e efectuou largas dezenas de concertos ao vivo, acabando por se tornar num ícone do movimento underground, não só na capital como, também, no resto do país.
Em 2000 chegamos aos Phantom Vision, pelas mãos do Trevor Bramford, mentor, não só, dos Ingleses Midnight Configuration como, também, da famosa editora independente Nightbreed Records, responsável pela edição de discos extremamente marcantes, nessa época, como, por exemplo, os discos dos Suspiria, o famoso álbum dos Athamay, os Corpus Delicti, os próprios Midnight Configuration, os Killing Miranda, etc., etc., além de ”Nocturnal Frequencies”, o primeiro longa duração dos Phantom Vision. A partir daí, a história não tem mais segredos, indo-se o presente construindo e, ao mesmo tempo, fazendo história...
S.M.: Qual o episódio, como banda, que vocês acharam mais engraçado e que vos tenha sucedido?
P.V.: Epá! Pergunta difícil!... São milhares os episódios engraçados a ocorrerem, de forma constante, a quem está numa banda e, principalmente, a quem anda na estrada. O tipo de vida propicia exactamente isso... Recordo-me essencialmente de momentos idos, maioritariamente provocados pela euforia alcoólica, em plena força da juventude, e que resultaram em situações desastrosas, mas que hoje, alguns anos passados, conseguem arrancar-me profundos sorrisos de nostalgia... Palcos a arder, baterias urinadas, etc., etc., etc. Foi engraçado, e é esse o adjectivo a que a pergunta apela.
S.M.: Houve certas coisas, opções no passado, que vocês, conscientemente, decidiram não tomar e que, por tal, daí viram frutos?
P.V.: Para ser sincero, não consigo recordar qualquer situação semelhante. Não tomar uma decisão é, na realidade, tomar uma. Portanto, e olhando para trás, concluo apenas que tudo o que se construiu, foi feito com todas as decisões, melhores ou piores, que se tomaram.
S.M.: A mudança de nome, do mítico Electric Wet Dreams para o de agora, acarretou a opção de outro caminho musical?
P.V.: Não, de forma alguma! Essa mudança resumiu-se, única e exclusivamente, ao nome, tendo todo o resto permanecido intacto.
S.M.: Segundo sei, vocês têm tido uma grande receptividade em Espanha. Surpreende-vos esse facto?
P.V.: Temos trabalhado para isso e, como tal, não podemos falar propriamente de surpresas.
Julgo, também, que o factor distância propicia a criação natural de imagéticas enigmáticas relativamente aos artistas e, consequentemente, algum “engrandecimento” em relação à forma de gostar e de sentir os seus trabalhos... Talvez seja isso… Certo é que, em Espanha, temos, de facto, um grande público, muitos discos vendidos, concertos lotados e muito, muito feedback todos os dias!...
S.M.: E noutros países, como é que tem sido a recepção ao vosso trabalho (incluindo este último)?
P.V.: Francamente, tem sido boa. Em Portugal, ainda não temos distribuição para este trabalho e, como tal, sente-se que as reacções ao disco são diminutas, em comparação com qualquer outro país Europeu ou mesmo Americano.
Um pouco por todo o mundo, os discos de Phantom têm sido recebidos com muita euforia e, de disco para disco, sentimos que o reconhecimento se vai consolidando e nos vamos tornando numa banda de referência para cada vez mais e mais público... Isso é extremamente gratificante!
S.M.: Têm visto frutos do vosso lavor aqui ou acham que este tipo de música só se implanta se vier do estrangeiro?
P.V.: Não! Também aqui sentimos um reconhecimento crescente, não obstante constatarmos haver uma diferença de grau muito significativa.
S.M.: Falem-me deste novo disco. Aplicam-se aqui apenas aqueles velhos clichés de que é o vosso melhor até agora ou que estão melhores como músicos, ou há algo de mais próprio e genuíno que vocês sintam em relação a ele?
P.V.: A evolução é uma constante em todo o Universo e, como tal, existe, naturalmente, uma evolução neste último trabalho em relação aos anteriores.
Mais uma vez, foi um disco totalmente gravado, produzido e misturado por nós, nos estúdios Batcave, e posso-te garantir que esse processo constitui uma fatia extremamente importante da magia de cada trabalho que fazemos.
Grande parte da genuinidade e pormenores que constituem a secreta intimidade de cada disco, nasce, cresce e ganha personalidade própria no decorrer desse período de magia e paixão. Acontece que, evoluir nesse processo, é evoluir nos diversos discos e nos seus conteúdos poéticos e artísticos.
No caso concreto deste último trabalho, é um disco quente, caracterizado pela enorme diversidade de informação e mensagem, mas em que os diversos temas seguem um trajecto com destino comum, umbilicalmente ligados pelo conceito guia, que aparece como o denominador comum para este enorme jardim de diversidade: o conceito de instinto, tão simples e redutor quanto complexo e sinistro, quando em contacto com o misterioso mecanismo do cérebro humano.
S.M.: Acham que nos anos 80, que são uma referência vossa, teriam se sentido mais ambientados, que essa seria uma época mais propícia, ou, pelo contrário, esta é que foi a época ideal para vocês surgirem?
P.V.: Para ser sincero, é minha convicção de que os anos 80 tinham, sem dúvida, o cenário, o contexto, a inspiração e as infra-estruturas físicas, sociais e morais perfeitas para a adequada sobrevivência, em habitat apropriado, dos Phantom Vision e de todo o seu mundo de sonho, imaginários e atitude.
O sonho, no entanto, ultrapassa o tempo, e a capacidade de sonhar torna-nos infinitamente dotados da possibilidade incrível de adaptação a novos habitats, próprios de novos tempos...
Nesse sentido, entendo que estes são igualmente o lugar e o momento perfeitos para existirmos, até porque foi de facto o momento em que, concretamente, aparecemos e existimos. É a lei da natureza e, contra isso, nada há a fazer!
Por outro lado, orgulha-nos o facto de existirmos agora, pois consideramos tão importante o papel e a responsabilidade de dar continuidade ao movimento alternativo e underground, guiando-o e influenciando-o com a nossa experiência e criatividade, quanto o papel daqueles cuja tarefa foi a de o criar e trazer até nós...
Imaginem um género de uma corrida de estafeta. O testemunho foi-nos passado e compete-nos, agora, fazer a melhor prova possível, no sentido de o entregar nas melhores condições às gerações futuras, para que estas prossigam orgulhosamente esta nossa corrida que é o Underground.
S.M.: Como surgiu a opção de editarem por esta editora (a Cop International)? Aqui não havia interessados?
P.V.: Esta é a editora para a qual estamos a editar há já alguns anos. Este é, na verdade, o terceiro disco que sai com o selo da Cop International.
Quando começamos a editar pela Cop, vínhamos da Nightbreed e, portanto, já situados numa perspectiva de mercado internacional. A Cop mostrou interesse e assinámos contrato, pois as suas propostas e conteúdos de orientação, não tanto musicais mas essencialmente ideológicos, nos pareceram interessantes, assim como a enorme capacidade de distribuição que, ainda hoje, demonstram de forma reforçada, essencialmente graças aos acordos que têm vindo a estabelecer.
Quanto à segunda parte da pergunta, não, nunca houve, por parte de qualquer entidade nacional relevante, pública ou privada, um interesse significativo em toda a actividade, curriculum e destaque que nós, apenas com o nosso próprio trabalho e dedicação, numa autêntica prova de obstáculos, temos concretizado, não obstante a constatação de que lá fora, as entidades internacionais nos dirigem todo o apoio, respeito, consideração e reconhecimento que mereceríamos por parte do nosso próprio país.
S.M.: Acham que a música está a tornar-se demasiado dependente das novas tecnologias ou pensam que isso é inevitável?
P.V.: Penso que as coisas evoluem, e a tecnologia tem sido o sentido da evolução desde sempre, de uma forma mais marcante desde a Revolução Industrial, creio.
A música acompanha o sentido da evolução da actividade humana, e as velhas tecnologias já foram novas noutra época.
Creio que o que é necessário é que, nas diversas etapas da evolução, e mais concretamente na evolução ao serviço das artes, o piloto e o guia sejam o cérebro humano.

Para os interessados, aqui ficam possíveis contactos:
www.myspace.com/phantomvision
http://www.phantomvision.net
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Phantom Vision - Instinct (CD, 13 trk., 64m), 2006 COP International (9/10)
Este novo trabalho representa, sem margem para dúvidas, um passo em frente na carreira dos PV.
O som, com naturais reflexos dos anos 80, expandiu-se e diversificou-se, com novos tons composicionais e uma poética de arranjos mais personalizada.
A voz soa mais natural, afastando-se de alguns clichés do Gótico e apresentando-se mais diversificada nas suas modelações e aplicações, expandindo o leque de emoções partilhadas e as nuances de estados de alma transmitidas.
Não se pense, contudo, que estamos perante um disco de uma outra banda qualquer! Não! O som é nitidamente o dos PV, contendo os elementos que os tornam únicos no panorama musical e os conceitos que têm vindo a construir, desde os inícios, a sua carreira. Todavia, quer a parte instrumental, quer a vocal, demonstram um maior entrosamento dos músicos e o atingir de uma orgânica mais diversificada nas suas facetas, facto que os permite seguir novos caminhos mas sem nunca perderem a sua essência.
Na globalidade, as composições demonstram urgência na forma como nos são entregues, uma agressividade instintiva e o redescobrimento de algumas características primevas que o verniz da civilização teima em recalcar sem nunca o conseguir, por completo, abafar.
Um disco que se entranha na pele e na alma!


MIKROBEN KRIEG

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Possuindo raízes electro-industriais vincadas, os Mikroben Krieg completaram agora uns históricos 11 anos de carreira, facto não muito comum em projectos de cariz underground. Para comemorar tal facto, foi editada agora a dupla colectânea “Possessive Memories”, retrospectiva da sua prolífica carreira, motivo mais do que suficiente para os entrevistarmos.

S.M.: O que significa, para ti, o alcançar 11 anos de actividade com este projecto?
M.K.: Posso dizer-te que me dá muito gosto olhar para trás e perceber o quanto eu e o projecto nos confundimos. O projecto tem sido muito importante no meu crescimento pessoal, pelas oportunidades de reflexão, criação e catarse que me tem proporcionado, mas, também, pela panóplia de gente interessante, inventiva e perspicaz que me tem permitido conhecer. Sinto-me, por isso, muito satisfeito por ter tido a teimosia de manter o projecto activo durante todos estes anos... (risos) Mas o melhor ainda está para vir, esta guerra não tem fim!
S.M.: Quando iniciaste os MK, já imaginavas que iriam atingir esta longevidade e qualidade composicional?
M.K.: Obrigado pelo elogio! Para ser sincero, este projecto nasceu, com pretensões algo inconsequentes, pela mão de um adolescente melómano que conseguiu convencer dois amigos a gravar umas coisas pois queria ter uma banda industrial. Não é um início muito glorioso, é verdade!
Na primeira metade dos anos 90, as coisas tinham outro encanto, outra magia, e a audição de coisas como Einstürzende Neubauten, Psychic Tv ou dos portugueses Ode Filípica, só para citar alguns, revestia-se de uma áurea transcendental absolutamente inspiradora. Aquilo era bem mais que música!
Lutando contra os olhares de estranheza dos colegas e amigos e, sobretudo, contra a falta de meios, o projecto foi-se mantendo, fruto do alcançar de pequenas metas e, especialmente, da satisfação interior que me dava. Os olhares de estranheza foram sendo substituídos pelos de respeito e apoio, a satisfação foi aumentando e a caturrice permaneceu.
A qualidade das composições foi sempre um reflexo dos parcos meios que tinha à disposição. Dos iniciais rádios de onda curta, pedais de distorção, velhos sistemas hi-fi em curto-circuito e auscultadores a servir de microfone, até aos actuais sistemas baseados quase exclusivamente em sintetizadores virtuais, correndo sobre digital audio workstations, o percurso foi longo. É óbvio que isso acaba, inevitavelmente, por ter reflexos naquilo que se compõe. Em 1995, não fazia ideia que daí a uma década os meios iriam ser como são hoje.
S.M.: Este último trabalho, que colige temas de toda a vossa carreira, está dividido em dois capítulos, um mais obscuro que o outro. Achas que MK tem mesmo essas duas facetas?
M.K.: O “Possessive Memories” é, de facto, um trabalho que colige temas dispersos que foram, de alguma forma, remetidos para a gaveta ao longo dos anos. O primeiro CD, tem apenas temas compostos nos primeiros anos, com muito poucos recursos. Muitos deles não passam, apenas, de experiências com meios ou processos fora do habitual, daí que, muitas vezes, a tónica não tenha sido posta no carácter emotivo. Contudo, reconheço que o projecto tem uma faceta que explora paisagens mais obscuras e outra mais experimental.
S.M.: Que pretendes alcançar com os outros projectos que achas que não possas fazer em MK?
M.K.: O projecto Mikroben Krieg é um projecto muito pessoal. Ao longo dos anos, tem sido quase um diário onde se escreve sobretudo acerca de dúvidas, preocupações, anseios, medos e fraquezas. Ninguém faz ideia de tudo o que está, tão claramente, imortalizado nesses trabalhos. Contudo, é um projecto no qual quero manter algum rigor e disciplina estética, onde a herança da velha música industrial esteja sempre presente. Nos outros projectos a solo, procuro explorar outras áreas musicais que também me agradam, mas que são, normalmente, bem mais claras, não se coadunando com a ambiência característica do projecto MK.
S.M.: Achas que irás multiplicar-te em mais projectos ou cada vez mais te reverás nos MK?
M.K.: Há certas cedências que considero não poderem ser feitas nos MK. Este será sempre o meu projecto principal, aconteça o que acontecer. Mais de um terço da minha vida teve como banda sonora este projecto e pretendo que tal continue a acontecer. Tenciono, por isso, continuar a desenvolvê-lo. A curto prazo, planeio também apostar em força no projecto Cellular, porque tem muito a ver com alguns aspectos da minha vida actual. É um projecto bem mais luminoso e explora áreas relacionadas com a electro-synth pop. Para além disso, a forma de composição é completamente diferente e agrada-me explorá-la.
S.M.: Que tal tem sido a aceitação do vosso trabalho, quer aqui, quer no estrangeiro?
M.K.: A aceitação deste tipo de trabalhos deve apenas ser avaliada no seu contexto restrito. Esta é uma área muito pouco divulgada e, por isso, muito pouco conhecida. Não duvido que, com outro tipo de divulgação, haveria muito mais gente interessada nestas sonoridades menos imediatas. Para além disso, os nossos críticos de música não estão, regra geral, capacitados para falar acerca delas e, por isso, tendem a evitá-las. Por esse motivo, tudo aquilo que se vai conseguindo por cá é digno de registo. Posso dizer que a reacção de quem está mais por dentro da cena tem sido deveras gratificante. E a crítica especializada tem sido muito encorajadora, a nível nacional e, especialmente, a nível internacional.
S.M.: Consegues imaginar-te a viver dos teus projectos musicais ou achas que, mantendo um emprego "normal", conseguirás manter a integridade artística da tua música?
M.K.: Para mim, compor é um modo de vida e não uma forma de viver. Julgo que se não tivesse um emprego seria, aí sim, obrigado a comprometer a integridade artística da música que componho, para me assegurar que ela me daria dinheiro para sobreviver, tornando-a um produto rentável. Seria obrigado a compor, compulsivamente, perdendo a espontaneidade. Para mais, se a minha música fala da minha vida, que interesse teria se não falasse de uma vida normal, como a do cidadão comum? Como poderia alguém identificar-se com ela?
S.M.: A edição pela Thisco foi um passo em frente importante? Como surgiu esse contacto?
M.K.: Sem dúvida que foi um passo importante, sobretudo pelas novas ligações que permitiu estabelecer, aumentando o leque de visibilidade do projecto, e pela promoção que a edição recebeu na imprensa especializada. A colaboração com a Thisco vem de há já alguns uns anos, em grande parte pelo facto de me identificar com a sua perspectiva cultural e artística.
S.M.: Como surgem as colaborações com outros músicos/pessoas? São vocês que os procuram, são eles que vos procuram, são ambas hipóteses?
M.K.: Já aconteceram ambas situações. De facto, ao longo dos anos tenho tido a sorte de poder colaborar com outros músicos e artistas em inúmeros projectos, algumas vezes através de contactos por minha iniciativa, outras por iniciativa da outra parte. Mas o mais frequente é a ideia surgir numa conversa ou troca de impressões.
S.M.: A ideia de fundir estilos diferentes é algo que pretendes continuar a seguir?
M.K.: Para ser honesto, essa fusão não é intencional, acaba por acontecer de forma espontânea, talvez por causa do vasto leque de músicas que ouço. Como julgo que continuarei a ouvir música de diversas origens estéticas, penso que acabarei por continuar a deixar inspirar-me por elas.
S.M.: Pensas em reeditar, na íntegra, os trabalhos anteriores (especialmente os mais antigos)?
M.K.: Sim, até porque apenas tenho os primeiros trabalhos em cassete, no seu formato original. Penso, por isso, na possibilidade de os editar num formato e suporte actual, mais fáceis de reproduzir.
S.M.: Quais os próximos passos?
M.K.: Acima de tudo, continuar a explorar sentimentos, meios e processos, como tenho feito até hoje. Mas algumas surpresas se estão a delinear, algumas delas bastante interessantes. Fiquem atentos!
S.M.: Tem sido difícil arranjar espectáculos ao vivo ou nem por isso?
M.K.: Admito que os sítios disponíveis para manobras artísticas menos convencionais não são muitos, mas aquilo que realmente me tem faltado é tempo, pois já tive que recusar alguns convites. É o problema de não viver da música! Reconheço que, neste aspecto, a Thisco tem sido muito importante na angariação de datas e locais para tocar.
S.M.: Achas que MK é mais de estúdio que ao vivo ou achas que as duas vertentes se conciliam facilmente e sentes-te à vontade em ambas?
M.K.: A fatia grande do meu esforço no projecto vai para a composição e produção de novos temas. Não considero haver interesse em tocar muito ao vivo e sempre os mesmos temas. No entanto, a experiência ao vivo é outra: enquanto no estúdio és tu, as máquinas e os teus sentimentos, ao vivo há um outro elemento, o público. Aí deixa de ser um exercício de simples introspecção e interiorização para se tornar numa forma de comunicação, de exteriorização. Esse elemento é determinante para o prazer que a performance dá. Além disso, a reacção do público é sempre geradora de sensações fortes, para o bem ou para o mal, não havendo meio-termo.

Para os interessados, aqui ficam possíveis contactos:
mikroben.krieg@mail.pt
http://mikrobenkrieg.cjb.net/
http://profile.myspace.com/mikroben


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Mikroben Krieg - Possessive Memories [95>06] (2xCD, 17+14 trk., 76+68m), 2006 Mikroben Krieg (9/10)

Estando dividido em dois CD’s, respectivamente intitulados “Silver” e “Dark”, este trabalho dos MK representa o somatório de uma carreira prestigiosa, tendo a grande mais valia de recolher temas e composições que não tinham sido editados antes, nos quais pontilham prestações ao vivo e versões alternativas.
Da primeira à última composição, está presente o ecletismo musical deste projecto, já que as sonoridades, que passam pelo EBM (Electronic Body Music), Electro-Industrial, Future Pop, Industrial ou Tribal, se inter-cruzam, mesclando-se, algumas vezes, com referências ao Trance ou ao Jungle, mas sempre com um carácter experimentalista (com tónica na vertente industrial) e um forte cunho pessoal.
Todas as composições expressam vivências intensas e transmitem emoções ou pensamentos que, quase sempre, são um reflexo directo das nossas próprias existências, fruto de um mundo cada vez mais mecanizado e distante, inóspito mesmo. Aliás, por coincidência ou não, e curiosamente, a sonoridade do projecto parece radicalizar-se na passagem do primeiro CD (“Silver”), que abarca os primeiros tempos de existência, para o segundo (“Dark”), com composições mais recentes, e que parece indicar um endurecer de posições e um concretizar de intenções que, talvez devido à melhoria dos meios de trabalho à disposição e/ou à confiança ganha com a experiência, se tornam mais vincadas e obscuras.
Um trabalho a adquirir e que demonstra que projectos alternativos, sonoramente mais radicais, têm potencialidades para vingar.